segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

INFLUÊNCIAS DO BANCO MUNDIAL NO PROJETO EDUCACIONAL BRASILEIRO



Blog História do Ensino Superior Brasileiro, de autoria de Álaze Gabriel.


Autoria:
Helena Altmann. Doutoranda em Educação na PUC-Rio. Mestre em Educação pela UFMG, com a dissertação Rompendo fronteiras de gênero: marias (e) homens na Educação Física, 1998, éautora, entre outros trabalhos, de “Orientação Sexual nos PCNs”,  Revista de Estudos Feministas, 2001, e “Marias (e) homens nas quadras: sobre a ocupação do espaço físico escolar”, Educação e Realidade, 1999.


RESUMO

A forte influência exercida pelo Banco Mundial (BIRD) na política macroeconômica brasileira irradia-se sobre diversos setores, entre eles, a educação. Dada a forte ascendência dessa instituição no Brasil, este artigo tem como objetivo analisar as propostas marcadas por tal influxo no setor educativo.
São inicialmente apresentadas as características gerais do plano de reforma educativa defendido pelo BIRD e, num segundo momento, as convergências entre as propostas do BIRD e o projeto educacional implementado no país pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Para o mapeamento desse projeto, são adotadas como referências a proposta de governo apresentada em 1994, informações coletadas na página da internet do Ministério da Educação, bem como declarações e artigos do ministro Paulo Renato de Souza. A terceira parte refere-se ao Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB) e às estratégias educacionais apresentadas pelo ministro em face dos resultados das provas aplicadas em 1999.
Desse modo, conclui-se que o projeto educacional brasileiro não pode ser analisado somente a partir dos dados quantitativos apresentados pelo governo, pois, vistos por si mesmos, eles não são suficientes para uma análise sobre os efeitos da expansão do ensino. Tal expansão precisa ser analisada levando-se em conta a variação de seus efeitos em diferentes contextos.
Com a expansão do ensino, não há uma eliminação da exclusão, mas a criação de novos mecanismos de hierarquização e de novas formas de exclusão diluídas ao longo do processo de escolarização e da vida social.
A forte influência exercida pelo Banco Mundial na política macroeconômica brasileira irradia-se sobre diversos setores, entre eles, a educação. Não alheio a isso, o governo Fernando Henrique Cardoso vem dando continuidade a reformas educacionais, muitas das quais coincidem com propostas do Banco Mundial (BIRD).
Embora a política de crédito do BIRD à educação se autodenomine cooperação ou assistência técnica, ela nada mais é do que um co-financiamento cujo modelo de empréstimo é do tipo convencional, tendo em vista os pesados encargos que acarreta e também a rigidez das regras e as precondições financeiras e políticas inerentes ao processo de financiamento comercial. Assim, os créditos concedidos à educação são parte de projetos econômicos que integram a dívida externa do país para com as instituições bilaterais, multilaterais e bancos privados (Fonseca, 1998).
Dada a forte ascendência dessa instituição no Brasil, o conhecimento de suas propostas e influências no setor educativo são de fundamental importância. É este, portanto, o objetivo deste artigo. São inicialmente apresentadas as características gerais da proposta de reforma educativa defendida pelo BIRD e, num segundo momento, as convergências entre as propostas do BIRD e o projeto educacional implementado no país pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Para o mapeamento desse projeto, adoto como referências a proposta de governo apresentada em 1994, informações coletadas na página da internet do Ministério da Educação, bem como declarações e artigos do ministro Paulo Renato de Souza recentemente publicados em jornais. Na terceira parte, teço algumas considerações sobre o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB) e as estratégias apresentadas pelo ministro diante dos resultados divulgados no final do ano passado referente às provas aplicadas em 1999. Finalizo, fazendo algumas considerações sobre até que ponto as medidas educacionais adotadas pelo governo podem atingir a conclamada qualidade de ensino, bem como sobre que tipo de inclusão social é propiciado por tal projeto.

PROPOSTAS DO BANCO MUNDIAL

A fim de garantir a estabilidade econômica dos países em desenvolvimento, as questões sociais tornaram-se essenciais para o Banco Mundial. De acordo com seu presidente, James Wolfensohn, justiça social é uma questão tão importante quanto crescimento econômico. A curto prazo, você pode manter a desigualdade. Mas a longo prazo não dá para ter uma sociedade estável. (...) É necessário criar oportunidades para que as pessoas pobres se desenvolvam, investindo em educação e em reforma agrária. (1999)
Desde 1990, o BIRD tem declarado que seu principal objetivo é o ataque à pobreza. Para isso, suas duas principais recomendações são: uso produtivo do recurso mais abundante dos pobres – o trabalho – e fornecimento de serviços básicos aos pobres, em especial saúde elementar, planejamento familiar, nutrição e educação primária. Nesta vi-são, o BIRD considera o investimento em educação a melhor forma de aumentar os recursos dos pobres (Corragio, 1996).
No entender de Marília Fonseca (1998), a educação é tratada pelo Banco como medida compensatória para proteger os pobres e aliviar as possíveis tensões no setor social. Além disso, ela é tida como uma me-dida importante para a contenção demográfica e para o aumento da produtividade das populações mais carentes. Daí depreende-se a ênfase na educação primária, que prepara a população, principalmente feminina, para o planejamento familiar e a vida produtiva.

1.  Devo alertar que este artigo não tem pretensão de abordar o projeto educacional brasileiro na sua plenitude, pois nem todas suas instâncias de intervenção puderam ser aqui analisadas.
2. Cabe lembrar que, no Brasil, o aumento do número de gravidez entre adolescentes e de casos de AIDS justificam a inserção do tema transversal orientação sexual nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

De acordo com Rosa María Torres (1996), o BIRD apresenta uma proposta articulada para melhorar o acesso, a eqüidade e a qualidade dos sistemas escolares. Embora reconheça que cada país tem sua especificidade, trata-se, de fato, de um único “pacote” de re-formas proposto aos países em desenvolvimento. Boa parte das conclusões e recomendações contidas no documento de 1995 já estava presente no estudo regional realizado pelo BIRD, em 1985, em 39 países da África subsaariana.
Segundo a autora, as políticas e estratégias recomendadas com base nesse estudo estão em boa medida reforçando a má qualidade e a desigualdade no sistema escolar. O pacote de reformas educativas proposto pelo BIRD contém os seguintes elementos (Torres, 1996):

a) Prioridade depositada sobre a educação básica.
b) Melhoria da qualidade (e da eficácia) da educação como eixo da reforma educativa. A qualidade localiza-se nos resultados e esses se verificam no rendimento escolar. Os fatores determinantes de um aprendizado efetivo são, em ordem de prioridade: bibliotecas, tempo de instrução, tarefas de casa, livros didáticos, conhecimentos e experiência do professor, laboratórios, salário do professor, tamanho da classe. Levando-se em conta os custos e benefícios desses investimentos, o BIRD recomenda investir prioritariamente no aumento do tempo de instrução, na oferta de livros didáticos (os quais são vistos como a expressão operativa do currículo e cuja produção e distribuição deve ser deixada ao setor privado) e no melhoramento do conhecimento dos professores (privilegiando a formação em serviço em detrimento da formação inicial).
c) Prioridade sobre os aspectos financeiros e administrativos da reforma educativa, dentre os quais assume grande importância a descentralização.
d) Descentralização e instituições escolares autônomas e responsáveis por seus resultados. Os governos devem manter centralizadas apenas quatro funções: (1) fixar padrões; (2) facilitar os insumos que influenciam o rendimento escolar; (3) adotar estratégias flexíveis para a aquisição e uso de tais insumos; e (4) monitorar o desempenho escolar.
e) Convocação para uma maior participação dos pais e da comunidade nos assuntos escolares.
f) Impulso para o setor privado e organismos não-governamentais como agentes ativos no terreno educativo, tanto nas decisões como na implementação.
g) Mobilização e alocação eficaz de recursos adicionais para a educação como temas principais do diálogo e da negociação com os governos.
h) Um enfoque setorial.
i) Definição de políticas e estratégias baseadas na análise econômica. Esse mesmo relatório de 1995 do BIRD – Prioridades e estratégias para educação – foi analisado pelo ex-consultor do Banco, Jon Lauglo (1997). Segundo ele, o BIRD recomenda a organização da educação a partir de um tipo de planejamento de currículo que especifique os objetivos da aprendizagem em termos observáveis. O relatório dá ênfase ao estabelecimento de padrões de rendimento e à necessidade de se dar atenção aos resultados da educação. Deve haver mais privatização, mais gerenciamento por objetivos e uso de indicadores de desempenho e mais controle pelos usuários. As análises das taxas de retorno têm sido o principal critério para decidir quais opções de investimento são de maior benefício para a sociedade.
O presidente do Banco Mundial declarou: “O que aprecio na estratégia de FHC é que ele e o ministro Paulo Renato estão dando ênfase à educação” (Wolfensohn, 1999). Esta satisfação é absolutamente compreensível, nem tanto por esta suposta “ênfase” dada pelo atual governo à educação, mas principalmente pela maneira como a

3.  O SAEB é um meio de fornecer taxas de retorno. Esse sistema de avaliação será abordado na terceira parte deste artigo. Contrapondo as indicações do BIRD com as estratégias educacionais brasileiras, percebemos o quanto o ministro Paulo Renato de Souza – que já foi consultor do Banco – acata as recomendações do BIRD. A seguir, aponto algumas dessas convergências.

CONVERGÊNCIAS ENTRE PROPOSTAS DO BIRD E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Uma perspectiva de descentralização pode ser identificada na própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A nova LDB opera mudanças significativas em relação às leis anteriores. De acordo com Carlos J. Cury (1996), há uma mudança na concepção da lei, havendo uma flexibilização em termos de planejamento e uma centralização da avaliação. O controle não é mais exercido na base – através de um currículo mínimo, estabelecimento de carga horária específica, etc. –, mas na saída, mediante a avaliação.
O artigo 9º da LDB afirma que a União deve se incumbir de: IV – estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; VI – assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino. (BRASIL, 1998 )
Nesse sentido, o governo federal elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais, que têm por objetivo estabelecer uma referência curricular nacional. Segundo o Ministério da Educação, eles são uma referência nacional para o ensino básico, pois estabelecem uma meta educacional para a qual devem convergir as ações políticas. No entanto, também é enfatizado o caráter flexível de tal proposta, a qual permite um diálogo com as escolas no que se refere à elaboração de seu projeto pedagógico.
Estabelecidas as metas e os padrões de rendimento, urge implementar sistemas de avaliação que devem monitorar o alcance das mesmas. Assim, diversos sistemas de avaliação, nacionais e internacionais, foram implementados na década de 1990, como o SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica –, o ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio –, o Exame Nacional de Cursos (Provão), a Avaliação dos Cursos Superiores. O Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade de
Educação e o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA) são exemplos de projetos internacionais de avaliação. Além disso, o Censo Educacional, realizado anualmente pelo Ministério da Educação, em parceria com as secretarias de educação dos estados e do Distrito Federal, tem por objetivo a produção de dados e informações estatístico-educacionais para subsidiar o planejamento e a gestão da educação brasileira pelas esferas governamentais. O Censo Educacional abrange todos os níveis e modalidades de ensino, subdividindo-se em três pesquisas distintas, representadas pelos Censo Escolar, Censo da Educação Superior e Censo sobre o Financiamento da Educação.
A proposta de governo apresentada por Fernando Henrique Cardoso na sua primeira candidatura à Presidência da República, em 1994, já apontava para as novas perspectivas educacionais a serem adotadas no país. Segundo ele, os maiores obstáculos da escola elementar brasileira eram as taxas de repetência do sistema e o brutal desperdício financeiro e de esforços a ela vinculados. As medidas propostas para a educação incluíam, entre outras: a redução das taxas de responsabilidade do Ministério da Educação como instância executora; o estabelecimento de conteúdos curriculares básicos e padrões de aprendizagem; a implementação de um sistema nacional de ava-liação do desempenho das escolas e dos siste-mas educacionais para acompanhar a consecu-ção das metas de melhoria da qualidade de en-sino (Cardoso, 1994).
O Programa Nacional do Livro Didáti-co é citado pelo governo como exemplo de in-vestimento que visa a melhoria da qualidade de ensino. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) fica responsável pela avaliação dos li-vros, cabendo aos professores a escolha dos mesmos.
No entanto, essa medida fica restrita a livros didáticos, não sendo enfrentado o problema da falta de acesso a livros em geral. No lugar de investimento em bibliotecas, o gover-no tem priorizado a instalação de microcom-putadores nas escolas. O governo brasileiro também tem-se empenhado em convocar os pais e a comuni-dade para uma maior participação nos assun-tos escolares, como demonstra o projeto Ami-gos da escolae o Dia da família na escola(24 de abril). Por meio de uma ampla campanha na mídia, o projeto Amigos da escolaconvoca a sociedade civil a prestar serviços voluntários às escolas. A participação da comunidade na es-cola pode trazer inúmeras contribuições, no entanto, a transferência para ela de responsa-bilidades do Estado mostra o quanto este tem-se eximido de suas responsabilidades sociais.
Em referência ao Dia da família na es-cola, no Dia das Mães, o ministro Paulo Renato escreveu uma carta às mães dos estudantes brasileiros na qual divulga os dados sobre a ex-pansão do ensino fundamental: na faixa dos 7 aos 14 anos, afirma que a porcentagem de cri-anças nas escolas subiu de 87% para 96% em sete anos. Segundo ele, em 1992 tínhamos apenas 71% das crianças pobres na escola, contra 97% das crianças ricas. Sete anos de-pois tínhamos 93% das crianças pobres na escola, contra 99% das crianças ricas. Aprovei -tou ainda para convocar “suas amigas” – ter-mo por ele utilizado para referir-se às mães – para colaborarem no outro grande desafio: a melhoria da qualidade do ensino. Sustentado novamente em números, afirmou que a participação da família se traduz imediatamente em melhor desempenho dos alunos (Souza, 2001a).
Outro problema enfrentado pelo país é a alfabetização de adultos. O Índice de Desen-volvimento Humano (IDH) elaborado pela Orga-nização das Nações Unidas (ONU), que mede a qualidade de vida das pessoas de 174 países no mundo, mostra problemas na alfabetização de adultos. De 1997 a 1998 o índice de alfabeti-zação de adultos subiu de 84 para 84,5% (Rossi, 2000). Segundo dados do IBGE (Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística), 13,3% dos brasileiros são analfabetos. O Nordeste tem o maior índice, onde 26,6% da população não lê nem escreve. Em face destas dificuldades, o governo declarou aumentar o investimento no programa de Alfabetização de Jovens e Adultos em 2001. O Orçamento previu um investimen-to de R$ 300 milhões no programa, enquanto que, até 2000, o Orçamento previa cerca de R$ 30 milhões para a área de educação de jovens e adultos. O programa foi previsto para atingir prioritariamente as regiões Norte e Nordeste (Paraguassu, 2001, p. C3).

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO BALIZANDO A MELHORIA DA QUALIDADE DE ENSINO

Na segunda metade dos anos 1990, a avaliação dos sistemas escolares de educação fundamental e média tornou-se um dos eixos centrais da política educacional. Duas referên-cias básicas inspiraram a implementação de sis-temas de avaliação, quais sejam, a proposta para a ação do governo, elaborada pelo Institu-6.  Disponível em www.fnde.gov.br/programas/pnld.htm, acesso em 15.06.01.
A nova LDB, como mostra Cury (1998), estrutura-se em torno da flexibilidade e da avaliação. Assim, os sistemas de avaliação da educação passam a estar associados aos pro-cessos de descentralização e melhoria da qua-lidade de ensino. Ao tornarem-se componen-tes políticos centrais, os sistemas de avaliação transformam-se numa atividade profissional sistemática e de longo alcance, legalmente chancelada e centralmente assumida e institucionalizada, que passa a contar com órgãos profissionais e orçamentos próprios (Bonamino, 2000).
Implementado no Brasil em 1990, o SAEB tem o objetivo de gerar e organizar informações sobre a qualidade de ensino, possibi-litando o monitoramento das políticas públicas e a melhoria da qualidade de ensino no país. Ele visa a monitorar a eqüidade e a eficiência dos sistemas escolares. As provas são realizadas de dois em dois anos com alunos das 4as e 8as séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. A base desse siste-ma de avaliação é amostral e também são apli-cados questionários contextuais com diretores, professores e alunos. Até 1997, foram realiza-das provas de Português, Matemática e Ciên-cias e, em 1999, além destas, História e Geo-grafia.
Ao analisar o processo de institucio-nalização do Saeb no Brasil, Creso Franco e Alicia Bonamino (1999) mostram mudanças signi-ficativas na organização e concepção da avalia-ção ao longo dos anos. Inicialmente a realização das avaliações era feita de maneira mais descen-tralizada e com a participação relativamente in-tensa das secretarias estaduais de educação. To-davia, este era um ponto de divergência entre o MEC e o BIRD, motivo pelo qual as provas de 1990 e 1993 não receberam financiamento do Banco. A partir de 1995, o sistema tornou-se mais centralizado e baseado na terceirização de uma série de atribuições operacionais. Desde en-tão, o BIRD financia o Saeb.
Assim, interessa ao BIRD financiar o SAEB, pois ele é uma forma de obter taxas de retorno e estabelecer critérios de investimen-tos. É importante, portanto, compreender os critérios que irão determinar os conteúdos aserem avaliados, uma vez que a escolha sobre o que avaliar tem repercussões sobre os currí-culos e o cotidiano escolar.
Segundo o BIRD, a ênfase deve ser dada às habilidades cognitivas: linguagem, ciências, matemática e, adicionalmente, habi-lidades na área de comunicação (Lauglo, 1997). Também o Saeb prioriza língua portu-guesa, matemática e ciências. Nessa seleção, diversos outros conhecimentos são deixados de lado.
O BIRD defende explicitamente a vin-culação entre educação e produtividade, a par-tir de uma visão economicista. Segundo a Co-missão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL –, para que os países da Amé-rica Latina se tornem competitivos no merca-do internacional, é necessário que disponham de talentos para difundir o progresso técnico e incorporá-lo ao sistema produtivo. É impres-cindível a aprendizagem mediante a prática, o uso de sistemas complexos e a interação entre produtores e consumidores (Miranda, 1997).
Assim, o conhecimento a ser ensinado nas esco-las é definido a partir de sua operacionalidade.Os resultados obtidos no Saeb em 1999 foram piores do que em 1997, contradi-zendo as declarações do ministro Paulo Rena-to, em 1997, de que em 1999 os resultados seriam melhores graças ao Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério).
Uma das explicações dadas pelo ministro da Educação para esta queda nos resultados foi o aumento do número de alunos na escola, prin-cipalmente alunos pobres, que teriam “puxado os números para baixo”. Todavia, como se ex-plica então o fato de também em escolas particulares os resultados terem sido piores? As seguintes soluções foram apresentadas na época pelo ministro da Educação: investimento em projetos de treinamento de professores para alfabetização, ampliação do Proinf (Informática nas escolas) e duplicação do projeto Parâme-tros em Ação – que treina pessoas para ajudar os professores a implementar os Parâmetros Curriculares Nacional nas escolas (Gois, 2000).
As soluções apontadas pelo ministro também podem ser relacionadas com recomendações do BIRD. Paulo Renato fala em criar cursos de treinamento, mas não se refere aos cursos de formação de professores. Segundo o BIRD, a prioridade deve ser o ensino básico (Torres, 1996). Ensino médio, profissionali-zante, treinamento em serviço e ensino superior devem ser privatizados. O documento as-sume que as habilidades para ensinar são mais bem desenvolvidas no contexto do próprio tra-balho, favorecendo um modelo prático para aaquisição dessas habilidades. O uso da palavra habilidadeé ilustrativo sobre a forma como é compreendido o trabalho docente. A formação docente torna-se eminentemente prática, fi-cando restrita à aquisição de habilidades. A proposta do ministro de criar cursos de treina-mento para professores é condizente com tal perspectiva de educação, como se o professor fosse um simples aplicador de técnicas pedagógicas que podem ser facilmente aprendidas em algum curso ou, até mesmo, na televisão,através do TV Escola – também criado recen-temente pelo Ministério da Educação.

A CRIAÇÃO E ÊNFASE NO PROJETO

Parâmetros em Ação também precisa ser ques-tionada. Esse projeto foi instituído com a finalidade de intensificar a utilização, por par-te dos docentes, dos PCNs. O governo deixa de problematizar os motivos que levam os docentes à não-utilização dos PCNs na escola. A for-mulação dessa reforma curricular encabeçada pelos PCNs não teve participação dos profes-sores, tampouco das escolas. Eles foram con-vocados apenas para sua execução. Há de se avaliar ainda as condições e os recursos para implementação dessa proposta nas escolas, de modo que se fosse além da apresentação de uma proposta pedagógica.
Esse processo é mais um exemplo de uma tradição dicotômica das políticas que, como afirma Rosa María Torres (1998), levou a ver a reforma educativa, e até a inovação educativa, como um eterno optar entre pa-res, o que dificulta a compreensão integral e sistêmica dos problemas e da mudança educativa. Segundo ela, é um erro ver a participação dos educadores só do ponto de vis-ta da execução. Com isso, os problemas ali encontrados são vistos como problemas deexecução e não de formulação política: A qualidade e a validez de um plano de reforma educativa não se enraízam (...) no nível cientifico e na coerência técnica do documento, mas em suas condições de receptividade e viabilidade social, em con-textos e momentos concretos. (Torres, 1998, p. 182)
Treinamento de professores, proces-sos de avaliação, etc. vieram à tona na re-cente divulgação sobre um sistema de parce-ria educacional entre o Brasil e os Estados Unidos. Cinco áreas compõem o sistema de cooperação entre esses países: investimentos em treinamento de profes-sores, no estabelecimento de padrões edu-cacionais e na melhoria dos processos de avaliação, em novas tecnologias, na ampli-ação do conhecimento dos alunos sobre o mundo através da expansão do intercâm-bio educacional e no envolvimento da co-munidade. (Souza e Rilley, 2001)
Note-se que o governo fala em trei-namento de professores, sem se referir a suaformação inicial, o que demonstra o desca-so do atual governo com o ensino superior. Segundo as recomendações do Banco Mun-dial, a responsabilidade por esse nível de ensino deve ser deixada para a iniciativa privada.
Cabe lembrar que está sendo analisado pela Comissão de Educação da Câmara dos Depu-tados um projeto de lei que cria uma taxa a ser paga pelos estudantes que estudam em univer-sidades públicas. Alunos recém-formados nes-sas universidades seriam obrigados a prestar serviço público por seis meses, recebendo sa-lário mínimo. Quem não quisesse prestar o ser-viço seria obrigado a pagar 30 salários mínimos (R$ 4.530,00). Para o ministro Paulo Renato, conforme o noticiado em reportagem da Folha de S. Paulo, a gratuidade do ensino superior é um assunto a ser discutido pela sociedade civil (Cruz, 2001). Ao lado dessa matéria, o jor-nal publicou uma nota divulgando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) sugeriu, em relatório sobre políticas sociais do governo, que as universidades públicas brasileiras se tornem pagas. Segundo o FMI, a verba obtida pode-ria ser usada nos ensinos fundamental e mé-dio.

EDUCAÇÃO PARA A INCLUSÃO SOCIAL?

O Ministro Paulo Renato tem declara-do que o Brasil está praticamente chegando ao índice de 100% de crianças na escola (Souza, 2001ª). Para isso, foi implementado o Progra-ma Bolsa-Escola, o qual concede apoio finan-ceiro a famílias carentes – cuja renda per capita não seja superior a R$ 90,00 – para a perma-nência das crianças no ensino fundamental. A família receberá quinze reais por mês por filho, com idade entre 6 e 15 anos, matriculado e freqüentando o ensino fundamental regular, podendo ser atendidas até três crianças de uma mesma família. Desse modo, o programa visa “a plenitude da política do Estado de al-cançar a universalização do ensino com qua-lidade, como também a ampliação do horizon-te econômico, cultural e social da população situada abaixo da linha da pobreza”.
Será que quinze reais mensais são suficientes para, como declarou o presidente Fernando Henrique Car-doso em rede nacional, garantir a todos con-dições iguais de acesso a uma educação de qualidade? Afirmou ainda o ministro Paulo Rena-to: “O outro grande desafio, agora que prati-camente todas as crianças estudam, é melho-rar a qualidade do nosso ensino” (Souza, 2001ª). Como será garantida a qualidade do ensino?
 Este artigo ponderou diversas medidas adotadas nesse sentido, finalizo-o, portanto, questionando a viabilidade dos objetivos alme-jados com esse tipo de intervenção, bem como seus possíveis efeitos. Em primeiro lugar, os dados quantita-tivos apresentados pelo governo, vistos por si mesmos, não são suficientes para uma análise sobre os efeitos dessa expansão. Ainda que a expansão garanta o ingresso de um maior número de pessoas em instituições de ensino, as condições de acesso e permanência nas mes-mas são diferentes. O fato de pessoas que anteriormente não tinham acesso ao ensino bá-sico passarem a tê-lo não significa que todos estejam tendo condições iguais de acesso a uma educação de qualidade. A expansão do ensino no Brasil precisa ser analisada em rela-ção a diversos fatores, e levando-se em conta a variação de seus efeitos em contextos dife-renciados. Além disso, a melhoria da qualidade é medida por resultados, por números. Assim, intervenções são feitas no sentido de aprimorar os resultados e os índices de rendimento escolar. Todavia, há de se questionar até que ponto qualidade educativa pode ser medida por índices de desempenho.
O ensino em sala de aula e todo o aprendizado dentro de uma es-cola vão além do que esses indicadores são ca-pazes de medir por meio do rendimento dos alunos. No modelo de educação adotado, a e scola é assemelhada à empresa. Os fatores do processo educativo, segundo José Luís Corragio (1996), são vistos como insumos e a eficiên-cia e as taxas de retorno como critérios fun-damentais de decisão. A análise econômica tornou-se a principal metodologia para a de-finição de políticas educativas. Rosa Torres (1996) também destaca que a educação passou a ser analisada com critérios próprios do mercado, e a escola é comparada a uma empresa. As propostas do BIRD para a educação são feitas, de acordo com a autora, basicamente por economistas, dentro da lógica e da análise econômica. A relação custo-benefício e a taxa de retorno cons-tituem as categorias centrais, com base nas quais se define a tarefa educativa, as priorida-des de investimento, os rendimentos e a pró-pria qualidade.
O ensino resume-se a um conjunto de insumos (inputs) que intervêm na caixa preta da sala de aula – o professor sendo mais um insumo – e a aprendizagem é vista como o resultado previsível da presença (e eventual combinação) desses insumos. (Torres, 1996 p. 140)
Esse tipo de análise deixa transparecer, segundo ela, uma compreensão e um conhecimento insuficiente do ato educativo. Acredita-se ainda, como afirmou o pre-sidente do BIRD, James Wolfensohn (1999), que esse tipo de investimento e de perspectiva edu-cacional vá criar oportunidades para que as pes-soas pobres se desenvolvam, de modo que se alcance justiça social e estabilidade econômica. Em outras palavras, como afirmou nosso ministro da Educação, é no campo da educação que está se decidin-do a sorte do próprio país e o seu papel no mundo. As diferenças de renda no Brasil (...) estão diretamente associadas às diferenças deescolaridade, e estas refletem e perpetuam as nossas seculares desigualdades raciais. (Souza e Riley, 2001)
O grande desafio está, portanto, na preparação das crianças e jovens para as transformações que virão no século XXI. Rá-pidos avanços tecnológicos, uma economia global interdependente e uma contínua mu-dança social marcarão suas vidas. Deve-se oferecer às crianças e jovens uma educação que lhes permita exercer as profissões do futuro e aproveitar os benefícios de viver em uma sociedade democrática. (Souza e Riley, 2001)
Todo esse otimismo em relação aos efeitos da educação é problematizável. A prioridade é dada à educação básica, cabendo ao setor privado outros investimentos, como no ensino superior. Acreditar que a oferta de umensino básico garantirá, a todos, oportunida-des iguais no mercado de trabalho e na vida social é uma grande ilusão. Com esse tipo de investimento, há uma segmentação da popu-lação entre aqueles que só dispõem dos servi-ços básicos e os que obtêm serviços mais amplos.
Com isso, afirma José Corragio (1996), há uma redistribuição dos serviços públicos dos setores médios para os pobres, acompanhados de uma redução da qualidade e da complexidade. As diferenças entre escolas se ocultam sob a aparência de um mesmo certificado de aprovação. Segundo o autor é uma falácia o fato de que a educação básica vá garantir acesso ao mercado de trabalho. Seria necessá-rio, outrossim, um desenvolvimento que garantisse crescimento das demandas por trabalho, o que exigiria investimentos em outros níveis de educação, em outros setores econômicos, assim como em outras instituições além do mercado.
Essa questão remete-me a uma pesquisa desenvolvida por Pierre Bourdieu e Patrick Champagne(1998) sobre a crise da instituição escolar na França após as transformações do ensino nos anos 1950, quando categorias até então excluídas passaram a ter acesso à escola.
Essa “democratização” do ensino produziu no-vas formas de exclusão. O processo de eliminação foi adiado e diluído no tempo, e a institui-ção escolar passou a ser habitada por excluídos potenciais, enfrentando, assim, as contradições e os conflitos associados a uma escolaridadesem outra finalidade que ela mesma. Os auto-res destacam a importância de se mostrar como, apesar das mudanças no ensino, manteve-se uma estrutura de distribuição desigual dos pro-veitos escolares e de seus benefícios correlativos.
Percebeu-se que não era suficiente ter acesso ao ensino secundário para ter sucesso nele e que não era suficiente ter sucesso nele para ter aces-so a certas posições sociais. A escola, para Jean-Claude Passeron (1991), já não tem mais “a bela simplicidade da oposição entre êxito e exclusão”. Passeron mos-tra que, quando pessoas anteriormente excluí-das passam a ter acesso à escola, há uma simultânea transformação da própria estrutura esco-lar e de todo o sistema das relações entrecertificação escolar e estrutura de classes, de modo que os efeitos da primeira transformação tendem a ser minimizados. Para ele, há de se pensar no efeito pelo qual a origem social faz sentir sua influência ao longo de toda a carreira profis-sional dos indivíduos, determinando sobre o mercado de emprego (e sem dúvida sobre ou-tros) um destino diferente para diplomas equivalentes. (p. 82)
Um mesmo diploma traz sempre maio-res vantagens a favor do diplomado originário das classes superiores. Em outras palavras, o capital social não se converte integralmente em capital escolar, mas proporciona a este um rendimento diferente, dependendo da combinação entre eles. O autor finaliza sua análise levantando a hipótese de que, com a democratização do ensino, haveria uma revalorização do capital sociale simultânea desvalorização do capital escolar, em outras palavras, um declínio do papel da escola na mobilidade ascendente por causa da expan-são escolar.
Assim, no que se refere à escola, além do acesso, há que se mudar as estraté-gias de ação pedagógica, enfrentando os me-canismos, internos à escola, de seletividade e exclusão. Essa questão, no entanto, não tem sido problematizada pelo Ministério da Educação.
Parece-me que a “democratização” do ensino no Brasil também está produzin-do seus excluídos do interior. Não apenas ex-cluídos do interior da escola, mas também excluídos do interior da vida social. O aces-so à educação básica talvez consiga desen-volver capacidades básicas para satisfazer ademanda do mercado por trabalhadores fle-xíveis que possam facilmente adquirir novas habilidades. Isso talvez os inclua em deter-minados setores do mercado de trabalho, de modo a garantir um maior controle e esta-bilidade social. No entanto, parece que não estamos indo além de incluir novos excluídos no interior da vida social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONAMINO, Alicia M. C. de. O sistema nacional de avaliação da educação básica: referências, agentes e arranjos institucionais e instrumentais. Rio de Janeiro; 2000. Tese (Doutorado) –Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
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A REFORMA DO ENSINO SUPERIOR NO CAMPO DA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O MOVIMENTO DOS EDUCADORES



 Blog História do Ensino Superior Brasileiro, de autoria de Álaze Gabriel.


Autoria:
Helena Costa Lopes de Freitas. Professora da Faculdade de Educação, Unicamp e presidente da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE).

RESUMO

O presente trabalho apresenta as discussões que têm orientado o debate acerca da formação dos profissionais da educação, recuperando a trajetória do movimento dos educadores na luta pela sua formação e pela profissionalização do magistério representada na atualidade pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) – nos últimos 20 anos. A construção coletiva em torno da base comum nacional, em oposição às políticas de formação, e a proposta de escola única de formação, que materializa os princípios da ANFOPE para a reorganização dos cursos de formação dos profissionais da educação nas universidades, vêm orientando o debate atual na resistência às políticas oficiais de aligeiramento e fragmentação da formação profissional.

INTRODUÇÃO

As reformas educativas levadas a efeito em nosso país e nos outros países da América Latina desde o final da década de 1970, com o objetivo de adequar o sistema educacional ao processo de reestruturação produtiva e aos novos rumos do Estado, vêm reafirmando a centralidade da formação dos profissionais da educação. Nesse contexto, debatem-se diferentes propostas para a formação, fundadas em projetos políticos e perspectivas históricas diferenciadas, o que faz com que a formação desses profissionais seja tratada ou como elemento impulsionador e realizador dessas reformas, ou como elemento que cria condições para a transformação da própria escola, da educação e da sociedade.
No quadro das políticas educacionais neoliberais e das reformas educativas, a educação constitui-se em elemento facilitador importante dos processos de acumulação capitalista e, em decorrência, a formação de professores ganha importância estratégica para a realização dessas reformas no âmbito da escola e da educação básica (Aguiar 1997, Freitas 1994, 1995).
A importância dada à questão da formação pelas políticas atuais tem por objetivo equacionar o problema da formação para elevar os níveis de “qualidade” da educação nos países subdesenvolvidos, qualidade que, na concepção do Banco Mundial, é determinada por vários fatores, entre os quais situam-se o tempo de instrução, os livros didático se a melhoria do conhecimento dos professores(privilegiando a capacitação em serviço sobre a formação inicial e estimulando as modalidades a distância). À formação geral, garantida no Ensino Médio a baixo custo, seria agregada a formação para a docência, oferecida em cursos curtos de formação inicial centrados na capacitação pedagógica (Torres 1996, p. 165).
Em nosso país, a implementação dessas concepções via políticas de formação vem se dando desde o final dos anos 80 e se consolida na década de 1990, em decorrência dos acordos firmados na histórica Conferência de Ministros da Educação e de Planejamento Econômico, realizada no México, em 1979, e na Conferência de Jontien, em 1990, na Tailândia. Várias iniciativas foram tomadas, em especial na América Latina e no Caribe, como tentativa de responder à crise de acumulação do capitalismo, no sentido de “elevar o nível de satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”, pilar do plano de ação Educação Para Todos que fundamentou, em nosso país, o Plano Decenal. A “qualidade” da educação e da escola básica passa a fazer parte das agendas de discussões e do discurso de amplos setores da sociedade, e das ações e políticas do MEC, que busca a cooptação para criar consensos facilitadores das mudanças necessárias na escola básica e, principalmente, no campo da formação de professores (Freitas 1994).
As concepções que orientam tais mudanças vêm sendo questionadas ao serem confrontadas com a produção teórica e prática da área educacional e do movimento dos educadores que, desde o final dos anos 70, com o processo de democratização da sociedade, passa a colocar novas exigências para a melhoria da escola básica e para a formação de professores. A Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) – que se organiza a partir de 1983 como Comissão Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (CONARCFE) –, no movimento de reformulação dos cursos de formação do educador, vem contribuindo com essa discussão, construindo coletivamente uma concepção sócio-histórica de educador em contraposição ao caráter tecnicista e conteudista que tem caracterizado as políticas de formação de professores para a escola básica em nosso país. Ela tem, na concepção de base comum nacional, em oposição à concepção de currículo mínimo, o instrumento que marca a resistência às políticas de aligeiramento, fragilização e degradação da formação e da profissão do magistério.
Faz parte também dessa trajetória na luta pela formação a definição de uma política nacional global de formação dos profissionais da educação e valorização do magistério, que contemple de forma prioritária no quadro das políticas educacionais, e em condições de igualdade, a sólida formação inicial no campo da educação, condições de trabalho, salário e carreira dignas e a formação continuada como um direito dos professores e obrigação do Estado e das instituições contratantes.
Este trabalho analisa, em um primeiro momento, as reformas no campo da formação de professores a partir da LDB 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, destacando a posição da ANFOPE e do movimento dos educadores em relação a elas. Em seguida, são re-tomados os pontos principais da política nacional de formação dos profissionais da educação, enfatizando as condições da formação inicial a base comum nacional e a intervenção no processo de discussão das diretrizes curriculares para os cursos de formação. Por último, é discutida a proposta de escola única de formação, uma alternativa de reorganização e estruturação dos cursos de formação de profissionais da educação no interior das faculdades e dos centros de educação e das universidades.

AS POLÍTICAS ATUAIS PARA A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

A aprovação da nova LDB, em dezembro de 1996, representou o marco da institucionalização de políticas educacionais que já vinham sendo gestadas e implantadas pelo MEC e pelo governo anterior. As medidas no campo da formação, regulamentadas pelo CNE, têm se caracterizado por aprovações pontuais de pareceres e resoluções que vão conformando a reforma universitária no campo da formação.
Destacam-se a Resolução 02/97 (antigos Esquema I e II, agora revigorados), que estabelece a possibilidade de complementação pedagógica para qualquer graduado/bacharel que queira atuar na educação básica; a regulamentação do curso normal em nível médio, sem que tenha sido definido o caráter transitório e datado dessa instância de formação bem como a política de formação em nível superior dos estudantes que finalizam esse curso; a regulamentação dos cursos seqüenciais que oferecem diploma e concorrem com os tradicionais cursos de graduação, abrindo a possibilidade de retomada das antigas licenciaturas curtas de 1.600 horas.
No quadro dessas políticas, destaca-se ainda a elaboração das Diretrizes Curriculares para a graduação, que fincará as bases para a organização curricular dos cursos de formação dos profissionais da educação.
A LDB instituiu também as bases para a definição de novas políticas que vêm sendo regulamentadas pelo Conselho Nacional de Educação, com a criação de novas instituições: os Institutos Superiores de Educação, instituição específica para formação de professores para a educação básica, o Curso Normal Superior, para formação de professores de 1ª a 4ª série e educação infantil, e a formação dos especialistas nos cursos de pedagogia.
Posteriormente, o Decreto 2.032 de agosto de 1997, que alterou o sistema federal de Ensino Superior e a organização acadêmica das IES, regulamenta essa nova instituição e seu lugar no “concerto” do Ensino Superior brasileiro. O decreto estabelece que as Instituições de Ensino Superior podem assumir diferentes formatos: universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades e institutos superiores ou escolas superiores. Com essas distinções, e mantendo-se a exigência da pesquisa apenas nas universidades, institucionaliza-se a distinção entre universidades de ensino e universidades de pesquisa, mantida no Plano Nacional de Educação elaborado pelo relator da Comissão de Educação e Cultura, reservando para os Institutos Superiores de Educação, uma instituição de quinta categoria, segundo a própria hierarquização formulada pelo MEC para as IES, a formação dos quadros do magistério.
A recente regulamentação dos Institutos Superiores de Educação, pelo Parecer nº 115/99 da Câmara de Ensino Superior do CNE, deixa clara a concepção de formação de professores que permeia as propostas atuais, ao estabelecer que a preparação dos profissionais para atuar na educação básica se dará fundamentalmente em uma instituição de ensino de caráter técnico-profissional.
As implicações dessa forma de organização do Ensino Superior para a formação dos profissionais da educação têm sido anunciadas e denunciadas tanto pelas diferentes entidades acadêmicas – ANFOPE, ANPED, ANPAE, Fórum de Diretores das Faculdades de Educação das Universidades Públicas Brasileiras –quanto por estudiosos da área (Aguiar 1997, ANFOPE 1998, 1999, Kuenzer 1998).
Para efeito de análise, retomamos aqui algumas dessas questões, centrando a discussão nas condições de formação, buscando identificar seus fundamentos no quadro atual. No campo das possibilidades da organização curricular e dos estudos a serem oferecidos, pode-se identificar uma situação discriminatória em relação aos demais cursos de graduação. Senão vejamos.
É um curso de caráter técnico-profissionalizante. A carga horária para integralização do curso –3.200 horas –pode ser reduzida, dependendo da experiência e da formação anterior dos estudantes, podendo chegar até a 1.600 horas. Com isso, constata-se que, pela primeira vez, abre-se a possibilidade de aproveitamento, em nível superior, dos estudos realizados em nível anterior de escolaridade, desqualificando e banalizando o rigor necessário que deveria ser exigido dos estudos superiores.
Outra característica discriminatória é a exigência de qualificação do corpo docente – 10% de mestres e doutores –, que contrasta com a exigência de qualificação nas universidades –30% de mestres e doutores –, caracterizando uma desqualificação dos formadores de professores, com sérias implicações no ensino e nos estudos desenvolvidos nessas instituições.
As diretrizes curriculares que orientarão a elaboração dos currículos e os estudos tomarão por base as diretrizes para a educação básica, ao contrário do processo que tem orientado a elaboração das diretrizes para os cursos de graduação, que toma como parâmetros e princípios orientadores os conhecimentos científicos da área de formação.
Essa forma de organização nos leva a afirmar que os estudos que aí se desenvolverão, separados da pesquisa e da produção de conhecimento nas áreas de formação – tanto nas disciplinas de conteúdo das áreas específicas da docência quanto na área educacional –, adquirirão caráter técnico e instrumental, retirando do profissional da educação a possibilidade de desenvolver-se como “intelectual responsável por uma área específica do conhecimento, atribuindo-se a ele uma dimensão tarefeira, para o que não precisa se apropriar dos conteúdos da ciência e da pesquisa pedagógica”(Kuenzer apudAguiar 1999).
Tais características apontam para a constituição de uma instituição formadora de caráter pós-médio, e não superior. Assim, em vez de se buscar o que há de mais avançado em termos de propostas de organização curricular e experiências em curso nas IES, em particular nos cursos de pedagogia, coloca-se como horizonte o aligeiramento da formação pelo rebaixamento das exigências e das condições de formação.
Esse rebaixamento das exigências em vários níveis – corpo docente, carga horária –, aliado às pressões dos sistemas de ensino estaduais e municipais para a qualificação de seus docentes até2007, em cumprimento à LDB e na ausência de política de expansão qualificada do Ensino Superior público, que demandaria maior volume de recursos financeiros, tem causado a proliferação de cursos de 1.600 horas e a criação de numerosas instituições privadas que se beneficiam dessas condições “ideais” para seu crescimento e expansão, nem sempre com a qualidade necessária.
É contra essa política que a ANFOPE tem se posicionado, mais especificamente contra o caráter da formação que essas instituições têm possibilidade de oferecer, em decorrência de sua organização. Desde o IV Encontro Nacional, de 1989, quando do processo de elaboração da LDB e, posterior mente, em 1994, durante o VII Encontro Nacional, a ANFOPE vem se posicionando contrariamente a essas iniciativas que já começavam a se configurar como alternativas para a organização dos cursos de formação de professores, pois indicavam “uma reformulação às avessas, desconsiderando as atuais instituições formadoras como lócus de produção do conhecimento e agências responsáveis pela for-mação de profissionais da educação”.
Ao contrário do que afirmam alguns autores (Libâneo e Pimenta 1999), a ANFOPE tem assumido historicamente uma posição contrária a qualquer proposta que vise criar centros específicos de formação de professores, separados dos centros e dos cursos que formam os profissionais da educação e pretendam separar a formação de professores da formação dos demais profissionais da educação e do ensino, ou dos especialistas.
Tal posição tem se mantido historicamente e tem fundamentado as posições da entidade nos diversos fóruns em que é discutida a criação dos Institutos Superiores de Educação, como lugar específico da formação exclusiva de professores, separado da universidade. Essa posição foi reafirmada no processo de elaboração do Plano Nacional de Educação da sociedade brasileira (1997), e nos quatro seminários nacionais realizados de 1996 a 1999, promovidos conjuntamente pela ANFOPE e pelo Fórum de Diretores das Faculdades/Centros de Educação das Universidades Brasileiras.
Nos diferentes documentos, a ANFOPE tem se posicionado a respeito dessa temática, em particular reiterando a denúncia de que a proposta mantém as dicotomias e as fragmentações na formação de profissionais da educação quando se dedica, em sua formulação, à formação de professores e não de educadores, enfatizando exclusivamente o conteúdo específico, as metodologias e o projeto pedagógico da escola, reforçando, portanto, a concepção conteudista, tecnicista do professor, reduzindo-o a um prático com pleno domínio da solução de problemas da prática cotidiana da escola e da sala de aula, alijado da investigação e da pesquisa sobre as condições concretas que geram esses problemas. (ANFOPE 1999)
É exatamente nesse campo que hoje se trava o debate nacional sobre a formação dos profissionais da educação, suas concepções, seu conteúdo e forma, que vai dando lugar a regulamentações, propostas, documentos e formulações oficiais.
A criação de novos cursos e instituições – como os Institutos Superiores de Educação e o Curso Normal Superior – específicos para a formação de professores é parte da estratégia adotada pelo governo brasileiro, em cumprimento às exigências dos organismos internacionais, para o que seria a segunda etapa da reforma educacional: a reforma no campo da formação de professores. Essa segunda etapa cumpre dois objetivos básicos:

a) adequar as instituições formadoras e os conteúdos da formação aos objetivos da reforma da educação básica em curso, garantindo a aplicação dos princípios da reforma na sala de aula e na escola;
b) para cumprir com eficiência esse objetivo, não é necessário nem desejável que a formação ocorra nas universidades e nos centros em que a produção de conhecimento é parte integrante da formação profissional; é preciso, portanto, separar a formação de professores da formação dos demais profissionais da educação e da pós-graduação acadêmica.

No caso do Brasil, é preciso separar a formação de professores do curso de pedagogia, reservando-o como um curso de excelência para formar profissionais da educação qualificados no campo da produção de conhecimento. Com essa política, desarticulam-se as faculdades e os centros de educação como instituições formadoras de educadores, profissionais de caráter amplo para atuar na docência, instituições que vêm se constituindo como centros produtores de conhecimento, geradores de novas idéias que contestam e fazem a crítica da educação, da escola e do ensino e das políticas moldadas pelas diferentes reformas educacionais.
Mello (1999), ao definir elementos da política para formação inicial de professores, deixa explícito que “é preciso dar prioridade à formação de professores na perspectiva e no âmbito da política de educação básica, independentemente da problemática do ensino superior como tal (...)”. Afirma que seria inviável para o poder público financiar a preços das universidades “nobres”a formação de seus professores de educação básica que se contam em mais de milhão. Com um volume de recursos muito menor, um sistema misto de custo baixos tanto públicos quanto privados, configura um ponto estratégico de intervenção para promover melhorias sustentáveis a longo prazo na escolaridade básica. (Idem, p. 8; grifos nossos)
Esse documento explicita alguns parâmetros orientadores das políticas do Banco Mundial para a educação básica (Torres 1996) e também as medidas e as políticas governamentais no campo da formação de professores, nos próximos anos, dentre os quais se destacam:

a) Aprofundamento do processo de “ajuste” estrutural, enxugamento dos recursos do Estado para a educação e conseqüente privatização;

b) distribuição, centralização e focalização dos recursos para experiências que se adeqüem aos princípios da reforma educativa em curso;

c) a massificação e o caráter de capacitação pedagógica (pragmatismo e o retorno ao tecnicismo) na formação de professores:

• ênfase na capacitação pedagógica de professores feita em instituições específicas, exclusivas, sem história e orientadas pelos parâmetros da reforma educativa em curso que necessita “aterrissar na sala de aula”;
• rebaixamento das exigências de qualificação do corpo docente das instituições formadoras de professores;
• retirada da formação de professores das faculdades de educação (curso de pedagogia) e das universidades, desarticulando-as como centros de formação de professores, com propostas orientadas por parâmetros acadêmicos e científicos no campo da pesquisa e da formação de profissionais com amplo domínio do conhecimento crítico sobre a educação e a sociedade, em condições de elaborar propostas alternativas às propostas oficiais atuais;
• diretrizes curriculares para a formação fundadas nas diretrizes curriculares para a educação básica e educação infantil, e não em diretrizes curriculares de caráter acadêmico, tal como para os cursos de graduação nas IES; é preconizada uma “sintonia fina”entre as agências formadoras e a reforma educativa.

d) o individualismo e a responsabilidade pessoal no processo formativo:

• desenvolvimento profissional: situa a responsabilidade pela formação continuada no próprio professor, que deve autogerir sua formação continuada, seu desenvolvimento profissional, em contraposição a uma concepção de formação continuada como direito do profissional e dever do Estado e demais instituições contratantes;
• certificação de competências: um novo conceito que orienta a for-mação profissional – não há direito ao trabalho garantido pelo curso de formação. O exercício do magistério fica condicionado à conclusão de curso em instituição credenciada e à avaliação para certificação de competências docentes;
• avaliação dos professores vinculada à avaliação de desempenho dos alunos no SAEB ou outras formas, para ascensão na carreira.

Na questão específica da formação de professores para educação infantil e séries iniciais, a situação criada pela LDB é ainda mais complexa e reacende algumas das polêmicas discussões da década de 1970, ao estabelecer permanência da formação desses professores em nível médio, ao criar o Curso Normal Superior em substituição ao curso de pedagogia e localizar a formação dos especialistas no curso de pedagogia, separada da formação de professores –no Curso Normal Superior.
Não é demais reafirmar que o curso de pedagogia, em grande parte das IES, desde meados da década de 1980, constituiu-se como um curso de graduação plena, licenciatura e bacharelado, com projeto pedagógico próprio, responsável pela formação de profissionais para a educação básica, eliminando a fragmentação das antigas habilitações, e possibilitando sua inserção em outros campos profissionais. É, hoje, o único curso de formação de profissionais da educação que tem essa organização, com projeto pedagógico específico, sob total responsabilidade das faculdades/centros de educação, superando as dicotomias entre bacharelado e licenciatura, formação pedagógica e formação específica, presentes nos demais cursos de licenciatura.
O CNE, ao regulamentar os Institutos Superiores de Educação, ignorou essa trajetória e regulamentou a formação de professores de educação infantil e de 1ª a 4ª série no Curso Normal Superior, criando o clima propício para que, posteriormente, fosse regulamentada a formação de professores para esses níveis de ensino exclusivamente no Curso Normal Superior, tal como estabelece o Parecer 970/99, da Câmara de Educação Superior, aprovado em 10/11/1999, com apenas sete (dos doze) conselheiros presentes e um voto em contrário, declarado em separado pelo conselheiro Jacques Velloso. Sua aprovação foi antecedida de muita mobilização em nível nacional, de amplos setores da área educacional. Centenas de instituições, entidades, conselhos de cursos e educadores enviaram manifestação ao Conselho Nacional, entre a reunião de outubro e a reunião de novembro do CNE, rejeitando o parecer e solicitando audiência pública para o trato dessa questão. A constatação de que não foi introduzida qualquer modificação na minuta originalmente apresentada à Câmara de Ensino Superior e a insensibilidade diante das centenas de manifestações de todo o país são dados reveladores da força dos interesses que orientam a definição das políticas educacionais em nosso país e das concepções que informam as propostas de formação de professores.
O conteúdo do Parecer 970/99, por outro lado, opõe-se frontalmente aos estudos desenvolvidos pela Comissão de Especialistas de Pedagogia, que, ao definir as diretrizes curriculares para o curso, estabelece a docência como base da identidade profissional de todo educador. Essa oposição a uma construção coletiva e histórica no campo da formação de professores demonstra que as decisões no campo da formação vêm respondendo aos interesses de determinados setores, tanto no CNE quanto no MEC, que pretendem colocar os cursos de formação de professores como responsabilidade apenas dos Institutos Superiores de Educação, afastados dos bacharelados e, no que tange à formação de professores para as séries iniciais e a educação infantil, afastada da formação dos demais profissionais do ensino no curso de pedagogia – que se transforma-ria em um bacharelado (ou pedagogia stricto sensu, uma nova formulação), retirando, portanto, desses cursos e das faculdades de educação a responsabilidade pela formação dos profissionais da educação (ANFOPE 1999).
Ao estabelecer que o curso de pedagogia formará os especialistas separadamente da docência, retomando as já superadas habilitações, a regulamentação do CNE contraria o movimento real, a produção teórica na área 10e a própria LDB, que estabelece, em seu artigo 67, a experiência docente como pré-requisito para o exercício das demais funções do magistério.
Com isso, retorna agora, em um patamar mais elaborado, a figura do pedagogo “especialista”, em oposição à concepção de profissional da educação, educador de caráter amplo que tem na docência, no trabalho pedagógico, a base de sua formação e de sua identidade profissional.
Essa concepção de pedagogo stricto sensu, superada tanto pela produção teórica da área quanto pela prática democrática da organização do trabalho pedagógico nas escolas públicas, articula-se à concepção de professor “tarefeiro”, formado com ênfase nos conteúdos específicos.
Essa concepção favorece as políticas governamentais que apontam para uma formação diferenciada entre professores e demais profissionais da educação, e ainda dá espaço para a formação de profissionais para funções de gestão do sistema educacional descoladas do âmbito escolar, numa perspectiva hierarquizada. Nas circunstâncias atuais da escola básica, esse profissional é ressignificado pelo Estado, talvez como um profissional a seu serviço na escola e nos sistemas de ensino para que, diante de professores formados em bases tecnicistas e pragmatistas, possa atuar firme e decisivamente no sentido de fazer cumprir as metas da reforma e das políticas educacionais que a embasam.
O fato de o curso de pedagogia constituir-se sob total e exclusiva responsabilidade das faculdades/centros de educação tem permitido seu aprimoramento e aperfeiçoamento na direção de tomar a prática educativa e a educação como objeto de estudo na formação de profissionais para atuação na educação básica –na formação de crianças de 0 a 10 anos –, identificando, no trabalho pedagógico escolar e não-escolar, elementos constitutivos da formação humana em sua dimensão omnilateral.
É essa especificidade que devemos garantir para o curso de pedagogia, cuja “crise” somente se aprofundará com a separação da for-mação de professores, a retomada das habilitações e a fragmentação na formação dos especialistas.
O que está em jogo, hoje, para o conjunto dos educadores e para a sociedade brasileira é a defesa do campo educacional e, nele, do curso de pedagogia e das faculdades/centros de educação, como espaços de formação do profissional da educação básica estudioso da educação, em condições de exercer sua prática em ambientes formais e não-formais, escolares e não-escolares, e em todos os espaços em que se desenvolva o trabalho educativo.
Sintetizando, podemos afirmar que o conjunto dessas políticas materializadas nas normatizações e nos referenciais dá contorno à reforma do ensino superior no campo da formação de professores, feita às avessas, à revelia e à margem do movimento dos educadores, das IES, e dos cursos de formação, como parte da reforma mais geral do ensino superior e da reforma do Estado, desencadeada pelo atual governo.
No que tange às concepções de formação, assistimos ao retorno da concepção tecnicista do educador (neotecnicismo), tal como anunciado por Freitas (1992), com ênfase nos aspectos pragmatistas da formação. A opção por esse modelo de formação atende aos princípios de flexibilidade, eficiência e produtividade dos sistemas de ensino, negando toda a trajetória do movimento dos educadores em sua luta pela melhoria das condições de sua formação profissional, retirando das faculdades/centros de educação a experiência construída historicamente de formação de professores e de produção de conhecimento na área educacional, sobre a escola, o ensino e o trabalho pedagógico em suas múltiplas dimensões.
Portanto, reafirmar as formulações e concepções históricas do movimento passa a ser uma exigência, para os educadores, na discussão das diretrizes curriculares, nas reformulações curriculares e na organização de novos cursos de formação, de forma que possam constituir-se em norte para as ações no campo da formação dos profissionais da educação.

A CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO E A BASE COMUM NACIONAL

A questão da formação do educador sempre foi examinada pela ANFOPE de forma contextualizada, por entendê-la inserida na crise educacional brasileira, que por sua vez constitui uma das facetas de uma problemática mais ampla, expressão das condições econômicas, políticas e sociais que configuram uma sociedade profundamente desigual e injusta que vem esmagando a grande maioria da população e relegando-a a uma situação deexploração e miséria.
Há hoje uma consciência generalizada de que a formação de pro-fessores éum desafio relacionado com o futuro da educação básica, esta, por sua vez, intimamente vinculada com o futuro de nosso povo e a for-mação de nossas crianças, jovens e adultos. No entanto, as perspectivas de que essa formação ocorra em bases teoricamente sólidas e fundada nos princípios de uma formação de qualidade e relevância social são cada vez mais remotas, no quadro das políticas educacionais implementadas.
A redução dos recursos públicos para a educação pública, o asfixiamento das universidades públicas, a trágica realidade da escola pública –exposta no documento “Retrato da Escola”, elaborado pela CNTE – vão evidenciando a impossibilidade de resolução desses pro-blemas nos marcos das relações sociais vigentes. A consciência dessa situação por parte dos educadores exige o desvelamento dos reais fundamentos das propostas de formação de professores em curso em nos-so país. Assumir com radicalidade as propostas de profissionalização do magistério, dando-lhes o conteúdo que o movimento dos educadores vem construindo ao longo de sua história, este parece ser o desafio atual.
Nesse contexto, éimportante explicitar as contradições presentes nas propostas oficiais, aprofundando a discussão de uma política nacio-nal global de formação dos profissionais para a educação. A luta pela igualdade das condições de formação, que se configura como um direi-to dos sujeitos e um dever do Estado, estáem contradição com as – e em oposição frontal às –políticas atuais que propugnam a igualdade de oportunidadesou eqüidade, que se configura como um dever dos sujei-tos e um direito do Estado.
A igualdade das condições de formação supõe fundamentalmente a possibilidade de estudos em cursos e instituições que recusem a fragmentação e as dicotomias entre a formação de professores e os demais profissionais da educação, rejeitando, portanto, as propostas atuais que reforçam o aligeiramento no conteúdo e no tempo da formação.
A definição das bases da formação no contexto de uma política global de formaçãoganha, nesse contexto, importância crucial, como forma de expressar as diferentes concepções de educação e de educador que estão em debate nas circunstâncias atuais. Esta tem sido a preocupação central da Anfope na última década, período em que as reformas neoliberais causaram impacto de forma mais direta na educação, na escola pública e na formação de professores.
Na definição dessa política devem se articular a formação inicial com a formação continuada e as condições de trabalho e salários dignos e justos, entendendo que a “implantação de uma política de formação inicial e continuada deve colocar em questão a responsabilidade dos estados em relação àmesma, bem como o financiamento para sua implementação”. Paralelamente e em estreita dependência, entende-se que a profissionalização do educador supõe a valorização dos profissio-nais, o que requer condições adequadas para o exercício da profissão, carreira e o desenvolvimento de uma política salarial unificada. Entende-se ainda a formação continuada como um direito dos professores e dever do Estado e das agências contratantes.
Na perspectiva de uma educação crítica e transformadora, deve-se também reafirmar a concepção sócio-histórica de educador, definida pelo movimento dos educadores e defendida pela Anfope, concepção de forma-ção do profissional de caráter amplo, com pleno domínio e compreensão da realidade de seu tempo, com a consciência crítica que lhe permita interferir e transformar as condições da escola, da educação e da sociedade, um educador que, enquanto profissional do ensino (...) tem a docência como base da sua identidade profissional, domina o conhecimento específico de sua área, articulado ao conhecimento pedagógico, em uma perspectiva de totalidade do conhecimento socialmente produzido que lhe permita perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e a totalidade das relações sociais, econômicas, políticas e culturais em que o processo educacional ocorre, sendo capaz de atuar como agente de transformação da realidade em que se insere. (Conarcfe 1989)
É essa concepção, reafirmada e aprimorada ao longo da trajetó-ria de construção coletiva dos educadores, que tem orientado estudos que foram dando forma e conteúdo às idéias, proposições e propostas de reestruturação curricular, particularmente nos cursos de pedagogia de numerosas instituições em nosso país, em resposta aos ideais dos educadores na luta pela democratização da escola, da educação, pela valorização e profissionalização do magistério.
A produção teórica do movimento dos educadores evidencia concepções avançadas sobre a formação do educador, não apenas por destacar seu caráter sócio-histórico, mas principalmente por contribuir com a construção de propostas de superação das dicotomias presentes na formação de professores e dos especialistas, entre bacharelados e licenciaturas e entre pedagogia e demais licenciaturas. Esta é uma exigência dada pela democratização das relações entre os sujeitos no trabalho pedagógico e na construção de novos projetos coletivos. A explicitação da dimensão social da educação e da escola torna evidência a estreita vinculação entre a forma de organização da escola na sociedade capitalista e a formação do educador, fato que coloca em oposição os projetos conservadores da sociedade atual e o projeto histórico que busca a superação do capitalismo e anuncia a concepção de futuro da huma-nidade que pretendemos.
Essas concepções encontraram sua forma mais elevada na elabo-ração da base comum nacionalque vem sendo construída cotidiana e coletivamente nas propostas concretas de organização curricular nas di-ferentes IES de nosso país, articulando a unidade dos educadores em torno de princípios norteadores da formação.
O conteúdo da formulação da base comum nacional éum ins-trumento de luta e resistência contra a degradação da profissão do magistério, permitindo a organização e reivindicação de políticas de profissionalização que garantam a igualdade de condições de formação.
É ainda um elemento unificador da profissão, ao defender que a docência éa base da formação de todos os profissionais da educação, pois permite assumir com radicalidade, ainda hoje, nas condições postas para a formação de professores, a formulação de Saviani (1982): formar o professor e o especialista no educador.
A idéia de base comum nacional, que se originou no I Encontro Nacional, realizado em 1983, em contraposição àidéia de formação do pedagogo generalista, contém um conjunto de princípios norteadores que vêm sendo construídos, retomados, ressignificados na trajetória da entidade e na construção prática das transformações curriculares que se desenvolvem nas diferentes IES. Princípios que são orientadores do exa-me, da análise e das propostas de estrutura e organização curricular e institucional dos cursos de formação de profissionais da educação, os quais podem ser assim sistematizados:

a) sólida formação teórica e interdisciplinarsobre o fenômeno edu-cacional e seus fundamentos históricos, políticos e sociais, bem como o domínio dos conteúdos específicos a serem transmitidos pela escola, que permita a apropriação do processo de trabalho pedagógico;
b) unidade teoria/práticaque implica assumir uma postura em rela-ção àprodução de conhecimento que impregne a organizaçã curricular dos cursos; tomar o trabalho como princípio educativo na formação profissional, revendo-se os estágios e sua relação com a rede pública e a forma de organização do trabalho docente na escola; e ênfase na pesquisa como meio de produção de conhe-cimento e intervenção na prática social;
c) gestão democráticacomo instrumento de luta contra a gestão au-toritária na escola, entendida como superação do conhecimento de administração enquanto técnica, a fim de apreender o significado social das relações de poder que se reproduzem no cotidiano da escola, nas relações entre os profissionais, entre estes e os alunos, assim como na concepção e elaboração dos conteúdos curriculares;
d) compromisso social e políticodo profissional da educação, com ênfase na concepção sócio-histórica de educador, estimulando a análise política da educação e das lutas históricas dos profissio-nais professores articuladas com os movimentos sociais;
e) trabalho coletivo e interdisciplinarentre alunos e entre professo-res como eixo norteador do trabalho docente na universidade e da redefinição da organização curricular; a vivência e a significação dessa forma de trabalho e da produção de conhecimento permi-tem a apreensão dos elementos do trabalho pedagógico na esco-la e das formas de construção do projeto pedagógico-curricular de responsabilidade do coletivo escolar;
f) formação inicial articulada àformação continuada, assegurando so-lidez teórico-prática na formação inicial e diálogo permanente entre o locusde formação inicial e o mundo do trabalho, por intermédio de programas e projetos de educação continuada, correspondendo à concepção de uma formação em redes de conhecimento e saberes, incluindo os programas de pós-graduação (Anfope 1998) .

Esses princípios orientadores, construídos e reafirmados a cada Encontro Nacional, configuram-se também instrumento de análise e dis-cussão das políticas atuais no campo da formação de professores. Eles têm orientado a atuação dos educadores nas últimas décadas e nos úl-timos dois anos vêm referenciando o movimento e as discussões, em ní-vel nacional, das diretrizes curriculares para os cursos de formação dos profissionais da educação.

AS DIRETRIZES CURRICULARES E A ESCOLA ÚNICA DE FORMAÇÃO: UMA PROPOSTA EM CONSTRUÇÃO

O processo de elaboração das diretrizes curriculares para os cursos de graduação, desencadeado pelo MEC e pelo CNE em 1997, insere-se no processo de “ajuste”das universidades às novas exigênci-as dos organismos internacionais, em particular do Banco Mundial e do FMI, e visa adequar a formação de profissionais ao atendimento das demandas de um mercado globalizado. No campo da formação de professores, o processo de elaboração das diretrizes expressa as contra-dições presentes nas discussões atuais, trazendo àtona os dilemas e as dicotomias no processo de formação: professor x generalista, professor x especialista e especialista x generalista.
Coerente com as formulações históricas da entidade, a ANFOPE reafirma em seu documento que propõe as diretrizes para os cursos de formação dos profissionais da educação, as universidades e suas faculdades/centros de educação como o locus privilegiado da formação dos profissionais da educação para atuação na educação básica e no Ensino Superior.
Nessa discussão, vem dando ênfase a duas questões fundamentais: a) a necessidade de repensar as estruturas das faculdades/centros de educação e a organização dos cursos de formação em seu interior, e b) a necessidade de superar a fragmentação entre as habilitações no curso de pedagogia e a dicotomia entre a formação dos pedagogos e dos demais licenciados.
A decisão de formular diretrizes exclusivamente para formação de professores, em separado da elaboração das diretrizes para o curso de pedagogia, retirando do debate a formação dos profissionais da educa-ção não éuma questão menor; pelo contrário, éuma questão do conteú-do da formação, que envolve concepções de escola, educação, socieda-de e educador que assumimos e que fundamentam e informam as pro-postas de organização curricular e institucional no campo da formação.
Entendidas como elementos norteadores gerais das organizações curriculares, por conta da flexibilidade que propugnam, as diretrizes po-dem apontar e reforçar o aligeiramento, colocando em risco a sólida for-mação teórica no campo de conhecimento específico, necessária para a formação científica e crítica dos profissionais. Contraditoriamente, abrem a possibilidade da construção de novas alternativas no campo institucionale acadêmico nas instituições de ensino superior. No meio dessas contra-dições, cabe ao movimento dos educadores dar conteúdo e forma a esse debate, redirecionando-o para o resgate das concepções presentes hoje nas diretrizes para o curso de pedagogia e em grande parte dos cursos de pedagogia, socializando-as para o conjunto dos cursos de formação.
As políticas atuais, que reforçam o aligeiramento e o caráter prag-mático e conteudista da formação e da profissionalização do magistério, exigem a socialização de propostas de organização curricular para os cursos de formação dos profissionais da educação. Écom esse objetivo que a Anfope resgata a idéia de escola única de formação, formulada por essa mesma associação em 1992 e aprofundada no IX Encontro Nacio-nal, em 98.
Essa proposta de escola única de formação – única porque o con-teúdo da formação éarticulado e comum a todos os profissionais da edu-cação para todos os níveis (e não como modelo único de formação ou como local específico de formação) – éuma das muitas possibilidades na direção de concretizar alternativas às formas atuais de estrutura dos cursos de formação. Acreditamos ser necessário continuar defendendo a multiplicidade de experiências em termos de organização curricular dos cursos de formação, que sejam acompanhadas em seu desenvolvimen-to, socializadas e debatidas amplamente pela comunidade da área. Esse parece ser um bom caminho, em oposição ao modelo único de formação, para a construção de caminhos alternativos àformação de professores/profissionais da educação, com vistas ao aprimoramento da educação e da escola públicas em nosso país.
Do ponto de vista da ANFOPE, deve ser entendida como uma das propostas possíveis,resultante de um esforço coletivo, e proposta geradora de reflexões a serem ampliadas. Como jáse apontava em 1992, ela traz, em si, elementos teóricos de grande complexidade e busca dar for-ma e estrutura ao conteúdo acumulado nas reflexões e experiências co-letivas. No entanto, entendemos também que, como uma das proposta possíveis, deve ser estudada tanto na perspectiva de uma proposta fu-tura, quanto na perspectiva de uma proposta em construção.
Nas circunstâncias atuais, em que a proposta dos Institutos Supe-riores de Educação e do Curso Normal Superior marca uma reforma uni-versitária imposta no campo da formação, épossível e mesmo desejá-vel que diferentes propostas de organização curricular, oriundas de ini-ciativas individuais, de entidades ou instituições, possam ser amplamente divulgadas e socializadas, para que possam constituir-se em referência para o movimento dos educadores que, em cada instituição, poderácons-truir caminhos alternativos fundados em concepções de educação, edu-cador e sociedade explícitas e presentes nos projetos pedagógicos dos cursos de formação.

O PAPEL DAS FACULDADES E DOS CENTROS DE EDUCAÇÃO

Apesar das deliberações e pareceres que negam a priorização dessas instituições como responsáveis pela formação, entendemos que as universidades e suas faculdades/centros de educação constituem-se no locus privilegiado da formação dos profissionais da educação para atuação na educação básica e no ensino superior. Entretanto, as exigên-cias cada vez mais presentes no campo da formação de professores nos colocam também o desafio de repensar as estruturas atuais das faculda-des/centros de educação e a organização dos cursos de formação em seu interior, no sentido de superar a fragmentação entre as habilitações no curso de pedagogia e a dicotomia entre a formação dos pedagogos e dos demais licenciados, considerando-se a docência como a base da formação e da identidade profissionalde todos os profissionais da educação.
As áreas e os âmbitos de atuação das faculdades/centros/depar-tamentos de educação inserem-se na formação inicial dos profissionais da educação, formação em nível de pós-graduação lato e stricto senso e formação continuada, presencial e a distância.
Na proposta de escola única, as várias instâncias formadoras são articuladas na faculdade/centro/departamento de educação e concebidas como programas articulados e supradepartamentais, sendo cada um dos programas, unidades com responsabilidades de pesquisa, ensino e ex-tensão, articuladas em uma coordenação colegiada.
Mesmo considerando a universidade como o locusprivilegiado para a formação de professores, não se pode desconhecer, no entanto, a exis-tência de dificuldades oriundas da estrutura atual que devem ser encara-das como inibidoras e limitadoras de passos mais avançados na direção de novas estruturas de formação. Entre essas dificuldades, apontamos al-gumas que jáem 1992 foram destacadas pela Anfope e que se mantêm, na atualidade, em grande parte das instituições: restrições orçamentárias que impedem a busca de alternativas criadoras no sentido de romper as barreiras das diferentes unidades da universidade; distanciamento entre faculdades/centros de educação e os institutos, tanto de ordem físico-es-pacial quanto de objetivos, interesses e intenções no campo da pesquisa, do ensino e da extensão; falta de recursos humanos para dar conta das responsabilidades atribuídas às faculdades de educação em relação à licenciaturas; fragmentação e departamentalização nas próprias faculda-des de educação (que ainda não foram superadas, apesar das possibili-dades da LDB); resistências em assumir co-responsabilidades, levando a uma luta por poder, prestígio e na busca de identidade entre faculdades e institutos; desprestígio e desvalorização da profissão do magistério, o que leva os estudantes a optar pelo bacharelado, e sódepois pela licen-ciatura, impossibilitando a criação de cursos de formação de professores com propostas pedagógicas próprias; dificuldades em romper a atual es-trutura e a carga didática das disciplinas das licenciaturas, limitadas às psicologias, fundamentos, didática e práticas de ensino, com algumas ino-vações no campo de disciplinas de instrumentalização e projetos.
Se essas limitações são impeditivas de novas construções cur-riculares, todos os esforços deveriam ser direcionados para superá-las. So-mente sua superação pode auxiliar a enfrentar a tentativa de retirada dos cursos de formação de seu interior ou a criação de novas unidades acadê-micas –Institutos Superiores de Educação –ou outras instituições, caminhos que certamente aprofundarão e perpetuarão os problemas jáexistentes.
Experiências em curso em várias instituições apontam para a su-peração dos departamentos como forma organizacional do ensino e da pesquisa no interior das faculdades de educação, com a criação de nú-cleos, áreas temáticas ou outras formas de organização, que alteram sig-nificativamente a forma de produção de conhecimento no interior dos cursos e programas das unidades universitárias. Repensar tais estruturas também pode ser um caminho interessante para a construção de no-vas proposições para a formação de professores.

OS CURSOS E PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

As faculdades ou centros de educação, em estreita articulação com os institutos/faculdades/departamentos das áreas específicas e man-tendo vinculação orgânica com os sistemas públicos de ensino, são res-ponsáveis, no interior das IES, pela construção do projeto pedagógico próprio dos cursos e programas de formação dos profissionais da edu-cação. Jáexistem numerosas experiências nesse sentido, especialmente nas instituições que experienciam os Fóruns de Licenciaturas como for-ma de articular e integrar toda a formação de professores da instituição.
A proposta em discussão prevêque os cursos atualmente existentes para atender àformação inicial para a educação básica – educação infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio –, àformação continuada e àformação de professores para os cursos técnicos/profissionalizantes e superior desdobrem-se em programas de formação de professores, com as seguintes características:
Programa de formação de profissionais para educação básica – curso de pedagogia: docência das séries iniciais do ensino fundamental – 1ª a 4ª série e educação infantil, ou outras modalidades, contemplando as dimensões de gestão e organização do trabalho pedagógico escolar e pesquisa, de plena responsabilidade das faculdades/centros/departa-mentos de educação;
Programa de formação de profissionais para a educação básica: cursos de licenciatura para a docência de 5ª a 8ª série, Ensino Médio, em estreita vinculação e interface com os institutos das áreas específicas; Programa de formação de profissionais da educaçãopara gestão e coordenação pedagógicas na escola básica (esse programa, presente no curso de pedagogia, seria articulado aos cursos/programas de forma-ção de professores das áreas específicas e aberto a todos os estudantes, que poderiam cursá-lo concomitantemente ou apósa formação específi-ca, dependendo da estrutura organizacional da instituição formadora);
Programa de formação pedagógicapara portadores de diploma de Ensino Superior, considerando-se a necessária revisão da Resolução 02/97 de modo a ampliar o mínimo necessário no que tange aos conhe-cimentos das áreas específicas e pedagógico-didáticos; Programas de formação continuada, para profissionais da educação básica; Programas de educação a distância; Programas de formação emeducação sindical, educação espe-cial, educação de jovens e adultos, produção de material didático, novas linguagens, multimídia, entre muitas outras modalidades que abranjam o campo de atuação do pedagogo, como ênfases nos demais cursos ou articulados em outra forma, dependendo da instituição; Programas de pós-graduação stricto e latu sensu em educação.
Todos esses programas articulam-se entre si, a partir da concepção de base comum nacional. Com essa organização, abre-se a oportunidade para que certas atividades sejam vivenciadas conjuntamente por todos os alunos dos programas, inclusive no nível dos conteúdos formativos das áreas de fun-damentos e outros da base comum nacional – como os relativos à iniciação à pesquisa, práticas pedagógicas, vivências e estágios profissionais, gestão e organização do trabalho pedagógico e do trabalho escolar, por exemplo.
Importante ressaltar também que o corpo docente não éexclusi-vo de um ou outro programa, mas éaltamente desejável que se movi-mente entre os programas de formação inicial e a pós-graduação.
Em cada instituição, as faculdades/centros/departamentos de edu-cação, em parceria com os institutos/centros/departamentos das áreas es-pecíficas, poderão constituir colegiado próprio, com a participação de pro-fessores e estudantes, buscando incorporar professores da rede pública e entidades sindicais de professores. Esse colegiado éresponsável pela definição da política global de formação nos cursos e programas de for-mação dos profissionais da educação. Os atuais Fóruns de Licenciaturas e Comissões de Graduação dos cursos de pedagogia, onde existirem, po-deriam constituir-se conjuntamente como esse colegiado, responsáveis pela definição e pela articulação dessa política, buscando articulação tam-bém com as Comissões de Pós-graduação, no que diz respeito àpesqui-sa e àarticulação da formação de profissionais para o Ensino Superior.
Esse espaço institucional de formação – tenha a denominação de escola única ou qualquer outra –, desde que incorpore os conteúdos da formação dos atuais cursos de pedagogia ànova estrutura curricular e organizacional, abre perspectivas inovadoras para a formação de profes-sores, no interior das IES, baseando-se nas experiências atualmente exis-tentes –consolidadas e em desenvolvimento – e constituindo-se como o novo que avança para formas superiores de organização.
As alternativas que se desenham no cenário educacional postas pelo quadro das atuais políticas para a formação de professores desafi-am-nos a pensar propostas concretas que possam consolidar a base co-mum nacional em uma perspectiva de saídas alternativas àatual estru-tura dos cursos de formação, em oposição às propostas atuais dos Ins-titutos Superiores de Educação e do Curso Normal Superior.
Pensar essas alternativas écolocar em movimento as concepções e práticas que orientam o pensamento mais avançado no campo da formação de professores, garantindo as atuais formas e aprimorando-as na busca por uma educação com bases sólidas voltada para a formação humana.
NOTA: Ao terminar este artigo, tomamos conhecimento do Decre-to Presidencial nº 3.276 de 6 de dezembro de 1999, regulamentando a formação de professores para a educação básica, e estabelecendo que a formação de professores para as séries iniciais e educação infantil sedará exclusivamentenos Cursos Normais Superiores. Assim, de forma autoritária, violenta, éimposta pelo governo e pelo MEC a reforma no campo da formação. Vencidos e derrotados na discussão aberta e demo-crática e pela construção teórica da área, impõe pela força da lei a dis-cussão vencida. O medo da derrota, em virtude das pressões dos seto-res privatistas e dos compromissos com os ajustes das agendas interna-cionais, atropelou o próprio CNE, que vinha discutindo a questão.
Só o tempo e a realidade podem confirmar ou rejeitar a validade de certas idéias. Nada nem ninguém mais.

NOTAS

1. Dentre essas medidas anteriores à LDB, destacamos a Portaria das Licenciaturas (Esquema I), posteriormente transformada em Resolução 02/97 aprovada pelo CNE, o PL 370 da autonomia universitária, Fundo de Manutenção e Desenvolvi-mento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef), escolha de dirigentes universitários, Parâmetros Curriculares Nacionais, Sistema de Avaliação da Educação Básica, Exame Nacional de Cursos, entre outras.
2. Cf. IV Encontro Nacional da Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador (Conarcfe) 1989.
3. Cf. Anfope 1994, p. 28.
4. Cf. Documento “Construindo uma política nacional global de formação dos pro-fissionais da educação”, Anfope, out. de 1997.
5. Esse curso, pensado inicialmente na LDB como parte integrante dos Institu-tos Superiores de Educação, recebeu tratamento diferenciado pelo CNE quan-do a minuta de Resolução foi devolvida ao Conselho pelo ministro, com a re-comendação de que a sua criação pudesse estar separada da criação dos ISE, podendo, portanto, existir em qualquer instituição de ensino superior, ou seja, nas universidades, jáque, pelo Parecer 115/99, as faculdades integra-das e as faculdades isoladas com cursos de licenciaturas deverão se trans-formar em Institutos Superiores de Educação.
6. Documento distribuído às comissões de especialistas das diferentes áreas en-carregadas de elaborar as diretrizes para as licenciaturas. Guiomar N. Mello, “Formação inicial de professores para a educação básica: Uma (re)visão radical (versão preliminar para discussão interna)”. São Paulo, out./nov. 99 (Mimeo).
7. Veja-se a proliferação de cursos de formação de professores em 1.600 horas, com aval dos poderes públicos estaduais.
8. Boletim Anfope no 8, abril 99.
9. Tendo perdido na discussão democrática e aberta com a comunidade da área no processo de elaboração das diretrizes curriculares, o CNE e o MEC ten-tam impor essa concepção de maneira arbitrária e autoritária, como forma de regulamentar a nova instituição de formação de professores. Infelizmente, encontram guarida em elaborações teóricas de educadores que, talvez de forma desavisada, sob o manto do novo, apresentam idéias que reforçam as políticas neoliberais para a escola pública. Essas idéias estão presentes na produção teórica de alguns estudiosos da área da Didática. Cf. Libâneo e Pi-menta 1999 (voto em separado).
10. Estudos recentes na área da administração e supervisão educacional reafir-mam a docência como base da formação desses profissionais. Ver especial-mente Ferreira 1999.
11. A concepção que orienta a separação da formação de professores da for-mação dos especialistas manifesta no Parecer 970 da CES e nas propostas atuais éa mesma – guardadas as devidas especificidades e nomenclaturas – que orientou, na década de 1970, a concepção de Valnir Chagas, deslocan-do a formação dos especialistas para a pós-graduação e deixando o curso de pedagogia exclusivamente para formação de professores.
12. Para recuperar a história real de constituição dos cursos de pedagogia, épre-ciso que nos remetamos também às experiências dos cursos nas diversas IES, reconhecidos como experiências inovadoras no campo da formação. A sua história e as reformulações ocorridas nos anos 80 e 90 confundem-se, de forma positiva e significativa, com as lutas do movimento dos educadores pela sólida formação dos profissionais da educação, entendidos aqui os pedagogos e os licenciados, pela democratização da sociedade e pela valo-rização da educação e da escola públicas.
13. Cf. Anfope, Documento Final VI Encontro Nacional, Belo Horizonte, 1992.
14. Documento-pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Edu-cação. Entregue ao MEC em 6/11/1999, na Marcha em defesa da escola e da educação públicas.
15. Ver Anfope Regional Sudeste/Estadual RJ, Textos-base 1998.
16. As proposições e os princípios da Anfope e o reconhecimento àcontribuição que a entidade e os educadores vêm dando a essa temática podem ser cons-tatados pela referência a ela no documento dos Pró-Reitores de Graduação, de maio de 1996.
17. Cf. Anfope, Documento Final IX Encontro Nacional, Campinas, 1998.
18. O trabalho de Celi Z Taffarel, “Diretrizes curriculares e plano nacional de graduação: Do ataque às consciências ao amoldamento subjetivo”, Recife, 1999, mimeo, apresentado no IV Encontro Nacional de Formação dos Profissionais da Educação, traz uma análise detalhada sobre a inserção do processo de elaboração das diretrizes curriculares no quadro das novas demandas do processo de globalização.
19. O próprio MEC constituiu a Comissão de Especialistas de Pedagogia e somente tempos depois constituiu o GT Licenciaturas, separado dos bacharelados.
20. Cf. Boletim Anfope nº11, agosto 1999.
21. Essa proposta surge das contribuições da professora Marlene Ribeiro, pos-teriormente detalhadas em seu artigo “Formação unificada do profissional de ensino: Uma proposta da Faculdade de Educação da Universidade do Ama-zonas”. Em Aberto nº 54, 1992. The reform of superior teaching in the field of professionals ubbringing of basic education: The educational policies and the teachers movement

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