Blog História do Ensino Superior Brasileiro, de autoria de Álaze
Gabriel. Disponível em http://historiadoensinosuperiorbrasileiro.blogspot.com.br/
Autoria:
António
M. Magalhães. Professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto e investigador do Centro de Investigação de Políticas do
Ensino Superior (CIPES). 2006.
RESUMO
A definição de uma ‘ideia’ de educação
superior parece ser uma tarefa que alguns pós-modernistas lançam
definitivamente para o caixote do lixo da história. Produto, por excelência, da
modernidade, e no cruzamento dos modelos humboldtiano, napoleónico e de
Oxbridge, a educação superior, tal como a herdamos, era centrada no
conhecimento, isto é, na sua produção (investigação), na sua distribuição
(ensino) e na sua difusão pelo corpo social (função de serviço à sociedade). O
conhecimento e o seu manu-seamento definiam não só a missão institucional como
a natureza das organizações consagradas ao ensino superior.
A estes elementos componentes da ‘ideia’
de educação superior foram incorporados outros igualmente estruturantes: a
funcionalidade destas instituições em relação à consolidação e desenvolvimento
do Estado-nação. Os quadros necessários ao funcionamento e estrutura do
aparelho de Estado encontravam nas universidades e noutros institutos de ensino
superior o lugar privilegiado para a sua formação.
O que este artigo pretende argumentar é
que, num contexto em que a produção, a distribuição e a difusão do conhecimento
se transformam, em que a globalização/localização intensifica – sobretudo na
Europa – a fragilidade das instâncias nacionais e em que o processo de
massificação e de democratização do acesso ao ensino superior o conduzem a
outro modelo sociológico que não o de origem, a educação superior está a viver
uma identidade esquizóide: educação terciária, pós-secundária, educação fundada
na investigação, educação vocacional, etc. Esta situação requer um esforço de
reflexividade que, ao mesmo tempo que recusa a procura essencialista de uma
‘ideia’ de ensino superior, enfatiza a necessidade de promover uma perspectiva
de educação que não soçobre ao pobre paradigma da adaptabilidade, segundo o
qual o critério de utilidade de uma dada instituição é directamente
pro-porcional à sua capacidade de sobreviver às mudanças operadas no seu
ambiente organizacional.
Palavras-chave: ensino superior,
modernidade, identidade.
INTRODUÇÃO
Em trabalhos anteriores (e.g. Stoer e
Magalhães, 2005) procurou-se estabelecer o contexto e as delimitações
estruturais dentro dos quais o ensino superior tem vindo a desenvolver-se.
Stephen Stoer (2004), elaborando esta perspectiva, identificou os contextos
estruturais dentro dos quais a educação superior pode (e está a) ser
reconfigurada no contexto europeu. Aqui procurarei elaborar uma abordagem que,
tendo em conta esses contextos, pretende assumir uma visão da educação superior
a partir do seu interior. Isto é, desde os anos 80 do século passado que o
ensino superior tem vindo a ser pensado a partir de um paradigma que poderíamos
designar como sendo o da adaptabilidade. Inspiradas na teoria dos sistemas e
das organizações, sobretudo através das teorias e práticas da administração, e
na pressão das restrições financeiras e políticas, a investigação e a reflexão
sobre as instituições de ensino superior (IES) têm vindo a ficar prisioneiras
das assunções de que, primeiro, as organizações acadêmicas, como quaisquer
outras organizações, têm de cuidar da sua relação com o seu meio ambiente e,
segundo, que a sobrevivência organizacional depende da reformulação da sua
missão. De fato, muitos acadêmicos, ciosos da tarefa da relevância social das
IES e campeões da prestação social de contas por parte da academia, propõem
tanta adaptação que a especificidade educativa e cognitiva deste tipo de
instituições corre o risco de se transformar, indo para além daquilo que, em
princípio, constitui a sua identidade. É neste ponto que se torna relevante a
pergunta do verso de Yeats: como distinguir os dançarinos da própria dança?
Qual é a diferença das instituições de ensino superior em relação a outras
instituições e organizações. É neste sentido que este trabalho pretende ser um
contributo para a construção de estratégias reflexivas das IES.
O objetivo deste artigo não é o de
propor uma nova ideia de ensino superior ou uma nova narrativa universal sobre
as universidades ou quaisquer outras instituições. À medida que este campo vai
sendo colonizado por discursos muito diversos (sendo, porém, os hegemônicos,
aqueles que legitimam, e se legitimam, nas exigências do ‘mundo exterior’, sob
a égide do modelo empreendedor empresarialista, articulando simultaneamente
argumentos de relevância social e da necessidade de prestação de contas
(Magalhães, 2004)), parece ser importante delinear uma estratégia baseada numa
delimitação de um mínimo que assegure que o ensino superior não caia, de fato,
na diluição pós-modernista do anything goes.
Na primeira parte deste trabalho,
centrar-me-ei na perspectiva segundo a qual a educação superior, tal como a
discutimos hoje, possui uma matriz moderna. Na segunda parte, lidarei com a
questão da dissolução narrativa do ensino superior, como indício da sua crise
de identidade, e, na terceira parte, debruçar-me-ei sobre a mudança de natureza
do ensino superior e sobre a necessidade de construir guiões em referência aos
quais as IES possam, por seu turno, desenhar estratégias de desenvolvimento sem
perderem, por assim dizer, a sua alma.
1.
MODERNIDADE E IDENTIDADE DO ENSINO SUPERIOR
O argumento geral que percorre este
artigo é o de que existe uma coincidência essencial entre a crise de identidade
do ensino superior e a crise da modernidade. De fato, o atual contexto do
ensino superior inspira o surgimento de uma identidade, diga-se assim,
esquizóide deste nível de educação. A educação superior parece estar, de fato,
a assumir simultaneamente múltiplos e diversos selves: ensino universitário,
ensino terciário, ensino pós-secundário, educação politécnica/vocacionalizante,
educação fundada na investigação, etc. Estes diferentes tipos de identidade
ocasionam, por sua vez, tipos institucionais ‘confusos’ como, para dar apenas
alguns exemplos, os Instituts Universitaires de Technologie, em França, as
Fachhochschulenna Alemanha, as universidades resultantes da transformação dos
politécnicos em Inglaterra, ou as resultantes da incorporação dos cursos de
Enfermagem e de Formação de Professores
nas universidades na Suécia ou, ainda, e para dar um exemplo relacionado com o
contexto nacional, as Universidades Politécnicas, recentemente propostas. Diz
R. Barnett que estamos a lidar com uma crise no que diz respeito «à forma como
entendemos a educação superior, aos princípios fundamentais sobre os quais a
ideia de educação superior tradicionalmente assentava, e à forma como esses
princípios estão a ser minados» (Barnett, 1994: 3). Num certo sentido, o ensino
superior esteve sempre em crise, mas, presentemente, está a confrontar-se com
dilemas com que porventura antes jamais se havia tão radicalmente confrontado.
Pelo menos nos países centrais do sistema mundial, devido ao aumento da procura
do ensino superior, tanto por parte da coorte de idade tradicional, como por
parte, e estes de uma forma cada vez mais significativa, de estudantes mais
velhos, assim como devido à proliferação das expectativas sociais e das
pressões econômicas e políticas, o ensino superior está a confrontar-se com uma
crise de identidade, que surge aparentemente como algo de realmente novo.
Mas será legítimo dizer que por detrás
dos sistemas de ensino superior baseados no mercado (como é o caso das
Filipinas e dos Estados Unidos da América), por detrás dos sistemas
centralizados (como é o caso da China e da ex-União Soviética), por detrás dos
sistemas de semimercado (como é o caso do Brasil, por exemplo) e por detrás dos
sistemas centralizados da Europa continental ou do sistema britânico há uma
matriz comum, uma matriz moderna? Uma resposta afirmativa a esta questão não
significa que nos seja possível traçar leis universais de configuração do
desenvolvimento e da diversificação dos sistemas de ensino superior, ou
postular padrões universais entre esses sistemas e a sociedade, em geral, e o
Estado, em particular.
Efetivamente, concordamos com Peter
Scott quando ele afirma, referindo-se ao caso britânico, que, apesar da
antiguidade da designação ‘universidade’, este tipo de instituições «[...] são
claramente modernas» (1997: 11). Este autor argumenta que a maior parte das
atuais instituições de ensino superior no Reino Unido fo-ram fundadas depois de
1945 e que as mais antigas «foram reformadas de tal forma que são
irreconhecíveis» (ibid.).
Trow (1996a) enfatiza a mesma ideia,
pois, segundo ele, apesar da antiguidade e das origens medievais das
universidades, alguns sistemas de ensino europeus são mais recentes do que o
americano. «Os americanos que deambulam pelos corre-dores e jardins de Oxford e
de Cambridge, e que sabem que Harvard foi modelada a partir de Cambridge,
pensam frequentemente que as universidades britânicas são incomensuravelmente
mais velhas que as suas. E Oxford e Cambridge são-no. Mas o ensino superior
como um sistema é muito mais recente do que o do Estados Unidos» (Trow, 1996b:
26). O que nos conduz ao fulcro do nosso argumento: a modernidade dos sistemas de
ensino superior e da sua fundação narrativa. Argumentaremos que, quanto mais
integradas forem as dimensões narrativas (pública, ontológica, conceptual e
meta narrativa, ver Somers e Gibson 1996), mais eficientes são, enquanto
produtoras de sentido. As grandes narrativas da modernidade postulavam a
centralidade da verdade e da humanidade como os seus personagens principais. De
Rousseau a Marx, de Kant a Hegel, estas personagens, em diferentes etapas,
desenvolveram-se na história como o seu elemento de eleição, articulando
conhecimento e instituições, de um modo tão integrado que o sujeito moderno
pode ficar a salvo de qualquer má consciência ou insegurança política. O
Ocidente via-se a si mesmo como o reino da Humanidade, o detentor do modelo
ideal da procura da Verdade, e do modelo histórico de civilização.
No paradigma sociocultural da
modernidade, a razão era ao mesmo tempo um instrumento e o seu próprio produto
– nos termos de Hegel o racional é real, e o real é racional (1976: 13) – e a
natureza, a cultura e as instituições sociais e políticas – as europeias, é
claro –, as suas faces materiais. O âmbito da história era o da realização da
unidade entre a consciência individual, a humanidade, a razão e o Estado.
Hegel, neste sentido, representa, talvez, o ponto mais alto da autoconsciência
da modernidade, dado que defendia a coincidência da Humanidade-Razão-Estado no
Estado, enquanto lugar «onde a liberdade adquire a sua objetividade e vive a
sua própria realização» (Hegel, 1965: 11).
1.1.
As ‘ideias’ sobre a educação superior
Como é que a grande narrativa moderna
articulou o ensino superior, ou como é que as universidades integraram nas suas
narrativas públicas a própria grande narrativa da modernidade? O que estas
diferentes narrações possuem em comum é o fato de promoverem uma ideia
explícita de educação superior. Adiantam, efetivamente, questões seminais:
i. a escolha das origens históricas;
ii. o que é considerado educação
superior – o que é superior e o que é educação;
iii. qual é a relação entre ensino
superior e enunciação epistemológica da verdade, isto é, qual é a relação entre
a investigação e o ensino;
iv. que relação existe entre a
especificidade do ensino superior e a definição das instituições de ensino
superior enquanto instituições, isto é, as questões da autonomia e da liberdade
acadêmica; e
v. quais são as metas do ensino
superior.
A fundação narrativa da modernidade que
é possível encontrar em Hobbes, Locke, Adam Smith, Rousseau, Hegel, Marx, etc.,
centrando o tempo e a história modernos em torno do Estado, do mercado ou da
comunidade, teve os seus equivalentes no que diz respeito às instituições de
ensino superior em Von Humboldt e no cardeal Newman, para mencionar apenas
estes dois. Assumindo, não obstante, diferentes matizados, os discursos destes
autores possuem algo de muito forte em comum: a sua fé moderna no Homem, no
Conhecimento (enquanto Ciência, Ver-dade) e na História. É neste sentido que a
fundação narrativa do ensino superior de Von Humboldt, Newman ou do modelo
napoleônico são modernas, para além das suas diferenças. John H. Newman
apresentou as suas reflexões sobre a universidade pela primeira vez em Dublim,
em 1852, nos seus Discourses on the Scope and Nature of the University
Education. Apesar de o seu projeto não ter sido realizado, o seu conteúdo e o
seu âmbito são, enquanto narrativas, extremamente importantes para se
compreender a ideia moderna de ensino superior, ou pelo menos de uma parte
deste. De fato, «pouco importa que a universidade ideal de Newman apenas existisse
na imaginação [...]» (Scott, 1995: 3); o crucial é que havia um auditório para
a ideia de universidade em geral e para aquela ideia de universidade em
particular.
Obviamente que o contexto britânico, que
era o dos discursos do cardeal Newman, é importante, mas a sua ideia de
universidade teve uma influência muito mais ampla nos discursos fundacionais e
legitimadores do ensino superior. Sublinhemos as suas principais
características Primeira, espera-se da universidade que ela forneça uma
educação liberal, entendendo por liberal o fato de o conhecimento dever ser
procurado como um fim em si mesmo (Newman, 1973:103).
Segunda, a educação superior não deve
ser em si mesma útil, mas sobretudo assumir a forma da aquisição filosófica do
conhecimento (ibid.). Terceira, a educação superior não deve basear-se numa
concepção de conhecimento ou de trabalho fragmentados, isto é, a universidade
deve ensinar todo o conhecimento «ensinando todos os ramos do conhecimento»
(ibid.:145).
Sendo estas as linhas mestras da ideia
de universidade de Newman, a pergunta que parece impor-se é a de saber como é
que essa ideia de educação liberal pôde conquistar audiências no contexto
crescentemente presente do processo de industrialização? A explicação talvez
resida no fato de a fundação narrativa atuar numa dimensão de legitimação que
não é um mero reflexo da realidade social no âmbito da qual ela surge. O
objetivo da narrativa fundacional é o de criar sentido e, portanto, legitimar a
realidade social, como sugerem Smith e Webster quando, a propósito do caso
britânico, dizem que «para a maior parte deste século [o século XX] a “Ideia”
de universidade [...] pareceu ser um assunto claro, ou, até mesmo, resolvido»
(1997: 2). Por outro lado, a indústria, na época, baseava-se sobretudo no
trabalho e não, primariamente, no conhecimento.
Há duzentos anos atrás na Grã-Bretanha,
Cambridge e Oxford (e as Universidades escocesas de Edimburgo, Glasgow e
Aberdeen) eram instituições de elite, recebendo, no seu conjunto, cerca de
cinco mil estudantes. Por outro lado, a ideia de universidade de Newman
baseava-se no desiderato de um «alargamento intelectual», «numa expansão da
mente» (Newman, ibid.: 118), com vista à «formação do caráter» (ibid.: 105) e
não à articulação imediata e utilitarista com o desenvolvimento nacional.
E se Newman enfatizava o desenvolvimento
da personalidade dos estudantes através de uma concepção liberal de educação
superior, a ideia de universidade de Humboldt, sobretudo influente na Alemanha,
enfatizava a qualidade da experiência do estudante através da emersão deste
numa atmosfera marcada pela procura do conhecimento. Na epistemologia idealista
de Humboldt assumia-se que o conhecimento é o produto de um diálogo
estabelecido entre as mentes, não havendo, por isso, uma diferença substancial
entre professores e alunos. Estavam ambos unidos pela Lernfreiheit, dado que a
produção do conhecimento se desenhava como um empreendimento comum.
A ideia humboldtiana de universidade
expressa uma centração na ciência moderna e na sua institucionalização, liberta
da religião, da igreja ou da autoridade do Estado e das pressões sociais e econômicas.
Por outro lado, assumia que estava no âmbito da competência e interesse do
Estado o assegurar a Lernfreiheite aLehr-freiheitda universidade, dado que a
ciência fornecia a força unificadora de que o Estado necessitava para se
legitimar a si próprio simultaneamente como instituição nacional suprema e
como, para utilizar as palavras de Humboldt e de Schleiermacher, “Estado de
cultura”. Bastaria, disse Humboldt em 1810, ver a ciência como algo que não
está totalmente descoberto e como impossível de descobrir totalmente para que
todas as instituições nacionais e a universidade convergissem (Humboldt: 1959:
379).
Na próxima secção centrar-nos-emos na
relação entre o ensino superior e o Estado moderno. Por ora, bastará dizer que,
para além das suas diferenças, as ideias de universidade de Newman e de
Humboldt partilham uma mesma matriz, a matriz moderna. Talvez a ideia
humboldtiana seja mais marcada pela Aufklärung, dado que situa a própria
essência quer dos objetivos das instituições de ensino superior, quer as
funções nacionais destas no interior do processo do desenvolvimento científico
(ver Lyotard, 1989: 69-78). Partilham, contudo, a base comum do cultivo do
conhecimento como um fim em si mesmo e uma concepção unitária desse mesmo
conhecimento que o ensino superior deverá preservar, construir e desenvolver, à
maneira de Kant, com o objetivo de alcançar a verdade para além da diversidade
das disciplinas e das divisões das faculdades.
Nestas ideias de universidade é possível
encontrar um comum e insistente desejo de unidade. Ambas assumem que a
universidade é, em última instância, uma forma material, externa e
organizacional de uma substância unitária; os seus objectos centrais são um só
(a Razão), apesar de aparentemente múltiplos: o Homem, a Verdade, o Estado, o
Conhecimento, sendo a História o âmbito da sua ação.
A universidade é concebida como o
estádio mais elevado onde esse objeto único pode alcançar o máximo possível de
consciência. Claudius Gellert, em Higher Education in Europe (1993a: 237-8), define
três ten-dências dominantes dentro das instituições acadêmicas europeias, que,
na economia do nosso argumento, assumimos como sendo matizes da mesma matriz
moderna. O modelo do conhecimento,que corresponderia à ideia humboldtiana de
universidade (o ‘modelo da investigação’), o modelo profissional, que
corresponde ao modelo das grandes ecolesfrancesas – que se situam, em termos de
prestígio e estatuto, acima das universidades -, o ‘modelo da formação’
concentrado sobretudo na produção de quadros para o aparelho de Estado, e o
modelo da personalidade, na esteira da tradição de Oxbridge de formação do
caráter através de uma educação liberal (o ‘modelo da personalidade’). O
primeiro modelo, historicamente identificado com a Alemanha, assumia a criação
e a transmissão do conhecimento como sendo a tarefa central da universidade; o
segundo modelo enfatizava a aquisição de capacidades profissionais, como
estando no cerne da missão das instituições de ensino superior, encontrando-se
este usualmente ligado ao sistema de ensino superior francês; e o terceiro
modelo, o modelo anglo-saxônico, concentrando-se este na formação do ‘caráter’.
Contudo, quer enquanto instituições científicas, quer enquanto instituições
profissionais, quer enquanto instituições culturais, estes três modelos são
narrativamente unificados, na medida em que partilham a celebração em comum do
conhecimento, da razão e da crítica como processos educativos.
É certo que o desenvolvimento destes
modelos nos diferentes contextos nacionais deram origem a diferentes tipos de
instituições e de sistemas de ensino superior, mas parecem partilhar a
ideologia e o mesmo senso comum intelectual acerca do ensino superior
(claramente fundado numa óbvia fé na ciência e na técnica, enquanto realizações
mais cabais da Razão), em relação às instituições científicas, enquanto
instituições nacionais, e em relação ao Ocidente como o centro da História e da
Humanidade, i.e., a matriz moderna, dentro da qual o conceito de verdade e da
sua posse capacita a Humanidade para conquistar o mundo, as suas leis e os seus
processos em proveito próprio.
As narrativas públicas legitimadoras, a
que nos acabamos de referir, enquanto narrativas fundacionais do ensino
superior e das suas instituições, são actualizações da metanarrativa da
modernidade, pois constroem ideias de universidade dentro das racionalidades de
emancipação e de regulação. As ideias de universidade a que nos referimos são
simultaneamente ideias e ideologia. Enquanto ideias, é possível enfatizar as
suas diferenças e aquilo que possuem em comum, assumindo, em sintonia com
Ronald Barnett, que o que é surpreendente é o seu grau de consenso, ou seja,
«podemos ver de imediato que há certos temas recorrentes, como conhecimento,
verdade, razão, totalidade, diálogo e crítica» (1994: 23). Enquanto ideologia,
no sentido de evidências partilhadas, encontramos, como diz J. Habermas ,
«[...] a ideia da unidade da ciência e da compreensão crítica (Aufklärung)
[...]» (Habermas, 1993: 49). Como parte da modernidade, estas ideias e ideologias
são parte também dos défices e excessos históricos desta.
1.2.
Os sistemas de ensino superior: a emergência do Estado moderno e o
desenvolvimento dos sistemas educativos nacionais
Os sistemas de ensino superior são
acontecimentos modernos pelo menos de duas maneiras: primeiro, narrativamente,
na medida em que a suas narrativas fundadoras – narrativas públicas e
conceptuais –,articulam a própria narrativa da modernidade. Em segundo lugar,
na medida em que, enquanto sistemas, eles produzem recursos humanos que
permitem a construção e consolidação do Estado-nação moderno.
Os sistemas de ensino superior, quer em
condições de grande autonomia – como na Grã-Bretanha –, quer em condições em
que a incitava privada desempenhou um papel central – como nos Estados Unidos
-, quer mesmo em condições de estrita regulação pelo Governo, foram
evidentemente funcionais em relação às necessidades desse Estado.
A Razão/Ciência e o Estado reuniram-se
numa encruzilhada da história, justificando-se e legitimando-se entre si com
base na sua hegemonia narrativa. Nos termos de Santos, aconteceu uma
hipercientificização do pilar da emancipação, que desfez o equilíbrio entre
este e o pilar da regulação, tendo produzido uma concentração da energia
emancipatória na ciência e na técnica (Santos, 1991). O reino do conhecimento e
da verdade imbricou-se com a regulação estatal, como se o princípio do Estado
fosse por si mesmo subsumido a uma lógica racionalizada, como a da gaiola de
ferro de Weber.
Margaret Archer (1979), na sua análise
estrutural dos sistemas educativos (focalizada nas origens sociais dos sistemas
educativos da Grã-Bretanha, da França, da Dinamarca e da Rússia), sublinha com
clareza as mudanças introduzidas pela integração da educação por parte do
Estado. Para o nosso objetivo o que é importante de ser retido é a integração
de uma multiplicidade de instituições sociais pela coordenação estatal, isto é,
a integração da educação por um centro político, o Estado.
Não nos referimos à mera integração
organizativa da educação – que, de fato, era um fenômeno mais antigo, como
Neave (1997) sublinha –, mas à emergência de uma educação nacional do Estado.
Nos sistemas nacionais, em consequência da natureza dos recursos envolvidos,
«pela primeira vez a propriedade educacional e o controlo educacional foram
separados» (Archer, ibid.: 148), e mesmo que se argumente que a Igreja Católica
ou a Igreja Anglicana, por exemplo, poderiam reclamar ter criado e governado
uma rede educacional nacional, pela primeira vez, com os sistemas nacionais, a
administração e a governação das instituições educativas surgiram ao mesmo
tempo como claramente de caráter educacional e ligadas a um centro político, no
sentido restrito do termo.
No que diz respeito ao ensino superior,
essas transformações estruturais, que ocorreram no contexto da emergência de um
sistema educativo nacional, assumiram diferentes formas conforme os contextos
em que foram levadas a cabo. Sob condições de grande autonomia – como na
Grã-Bretanha – e em condições de forte regulação estatal, na tradição do
absolutismo – como em França e em outros países do Sul da Europa-, o processo
de integração assumiu padrões quantitativa e qualitativamente diferentes.
Em condições em que a iniciativa privada
desempenhava um papel central, e não a regulação estatal – como é o caso dos
EUA –, a questão que pode ser levantada é a de saber como é que foi possível a
criação de um sistema de ensino superior nessas condições. A resposta talvez
esteja, pelo menos em parte, «na fraqueza do Governo central na América e numa
constituição federal que atribuía aos Estados a principal responsabilidade na
provisão de educação» (Trow, 1991: 158).
Clark and Youn resumem a questão da
seguinte forma: ‘Sucessivamente em diversos países do continente, construir uma
nação significava enquadrar o ensino superior num gabinete público. Aconteceu
quer a completa nacionalização do ensino superior, na qual quase todas as
unidades foram colocadas sob a tutela de um ou mais ministérios do Governo
nacional, como, por exemplo, no caso da França depois de Napoleão, ou da Itália
depois da unificação, quer o completo enquadramento por parte do Governo ao
nível mais baixo, como na Alemanha, onde as universidades estão integradas no
âmbito de um ministério de um governo do ‘Land’ (Clark e Youn, 1976: 3).”
Na Inglaterra, este tipo de
transformação aconteceu de uma forma efetiva apenas depois das duas guerras
mundiais. Aí, a integração assumiu um ritmo específico e uma forma diferente,
por exemplo, do modelo napoleônico de ensino superior cujo objetivo era o de
«assegurar a unidade política e a estabilidade da nação expressa como unidade
histórica e geográfica» (Neave, ibid.: 12). Os colégios e universidades
britânicos eram matricialmente instituições corporativas privadas quase sem envolvimento
estatal, mesmo no âmbito do financiamento. Só em 1889-90 o Estado inglês
ofereceu auxílio financeiro às universidades e colégios, e «o ad hocUniversity
Colleges Committee, estabelecido em 1906 [...] foi a primeira tentativa de
criar uma máquina administrativa para regular as relações entre as
universidades e o Estado» (Scott, 1995: 14). Esta relação tornou-se mais
orientada no sentido da unificação depois das duas guerras mundiais e das suas
«reverberações sociais, combinadas com o estabelecimento definitivo da
democracia sob a forma de sufrágio universal depois da Primeira Guerra Mundial
e com a criação do Estado-providência depois da Segunda, (que) originaram as
condições para o rápido crescimento da procura de ensino superior. As
universidades tornaram-se então instituições nacionais» (ibid.: 14-15). O UGC
(University Grants Committee) foi estabelecido apenas em 1919 e em 1946 já
tinha aumentado o financiamento das instituições do ensino superior em dois
terços.
Para se compreenderem as principais
consequências da emergência dos sistemas nacionais estatais, sobretudo no que
diz respeito ao ensino superior, tem de se ter presente que a modernização nem
aconteceu de um modo simultâneo nos países ocidentais, nem constituiu um fenômeno
homogêneo quando se compara entre os diferentes países. De fato, este processo
de modernização da educação representa algo de substancialmente novo, sobretudo
se comparada com a ‘monointegração’, como Archer lhe chama, que anteriormente
prevalecia na Europa. Desde a Idade Média que a educação era uma instituição
monointegrada, quer dizer, dominada, e orientada de acordo com as necessidades
e com os seus objectivos pela Igreja Católica – como era o caso da França,
entre outros países– e/ou pelas ordens religiosas, pela Igreja Anglicana, em
Inglaterra, pela Igreja Luterana, na Europa do Norte, pelo menos até meados do
século XVI, e pela Igreja Ortodoxa e pelas suas irmandades, por exemplo, na
Rússia. É importante que se refira, ainda na esteira de Archer, que quem
controlava a educação também era a sua ‘proprietária’ (ibid.: 57), e tal
permaneceu assim, genericamente falando, até ao surgimento, por um lado, da
Aufklärung, e, por outro, dos Estados nacionais.
Considerando os traços corporativos das
universidades e das suas complexas relações com os poderes religiosos e
políticos, a separação entre a propriedade das instituições e o controlo
educacional deve ser matizada. Em Portugal, por exemplo, a partir do século
XVI, a Ordem dos Jesuítas tornou-se na controladora efetiva da produção e da
disseminação do conhecimento, mas a Universidade de Coimbra (à época, a única
universidade portuguesa) – diferentemente daquilo que acontecia com outras
instituições educacionais – não era posse dessa ordem religiosa. Contudo, os
Jesuítas controlavam e supervisionavam a instituição, os mestres e os curricula
como se seus proprietários fossem, não havendo, de fato, qualquer distinção
entre os Jesuítas e os mestres da universidade (Carvalho, 1986: 330; ver também
Marques, 1983: 128-134). E embora a ordem tenha sido expulsa de Portugal ‘para
sempre’ pelo governo iluminado do marquês de Pombal no sécu-lo XVIII, a Igreja
Católica nunca deixou de exercer o seu controlo sobre a universidade
portuguesa, tendo sido apenas depois da Revolução Republicana de 1910 que os
alicerces de um sistema de ensino superior público foram lançados, isto é, de
uma forma claramente regulada pelo Estado. Em 22 de Março de 1911, o Governo
republicano criou a Universidade do Porto e a Universidade de Lisboa, definindo
estas instituições como sendo públicas e nacionais sob a tutela do Ministério
do Interior (Bases da Nova Constituição Universitária, de 19 de Abril de 1911
in Portugal, 1989: 107), rompendo simultaneamente com a jurisdição e controlo
da Igreja da Católica sobre as universidades e com o monopólio da Universidade
de Coimbra sobre o ensino superior em Portugal.
O controlo e o financiamento dos
sistemas de ensino superior pelo Estado são, ainda que paradoxalmente, mais
favoráveis à autonomia e liberdade acadêmicas do que a anterior subordinação à
Igreja e às ordens religiosas, que trazia consigo um grau muito limitado de
autonomia no que diz respeito à determinação das respectivas operações, dada a
dependência em relação ao proprietário/controlador.
Como diz Scott, não há uma contradição
inerente entre o financiamento e controlo por parte do Estado «e uma (efetiva)
autonomia universitária, como mostra a experiência das universidades britânicas
entre 1919 e meados dos anos 1960 e a de muitas outras universidades europeias,
apesar do que poderia sugerir a sua incorporação formal no âmbito de
burocracias estatais» (Scott, ibid.: 15).
Foi neste contexto que a educação
começou a ser pensada dentro de um quadro em que as culturas nacionais eram
assumidas como sendo a questão central da educação, tornando-se mesmo esta no
mecanismo privilegiado da afirmação da identidade nacional. E se concordamos
com Stoer e Cortesão quando eles questionam a pretensão de atualmente a
educação ser precisamente o esteio dessa afirmação, dados os processos de
globalização e de transnacionalização em curso (1995; 1999), no que diz
respeito ao período que estamos a considerar, essa pretensão era bastante mais
do que uma mera construção retórica. Especialmente no que diz respeito ao
ensino superior.
1.2.1. Regulação estatal e função
nacional dos sistemas de ensino superior
Guy Neave e Frans van Vught no seu livro
sobre as relações entre o Estado e o ensino superior, Government and Higher
Education Relationships Across Three Conti-nents: The Winds of Change (1994),
afirmam que«[...] se hoje em dia, o modelo de controlo estatal da relação entre
o Governo, a administração nacional e o ensino superior pode parecer
disfuncional, não se deve esquecer que nas sociedades pré-industriais, na
Europa assim como em muitas sociedades atualmente em vias de desenvolvimento, o
principal agente de modernização e de estabilidade reside precisamente na
formação de uma burocracia profissional e na assunção da universidade como o
seu reservatório» (1994: 268).
Estes autores defendem que as reformas
das universidades levadas a cabo durante o século XVIII – por exemplo, as
reformas austríaca e sueca e, mais tarde, a reorganização napoleônica e
humboldtiana destas instituições –«marcam o advento da universidade moderna,
toda virada para a universidade como um agente da reconstrução nacional, numa
aliança visando satisfazer a necessidade de recrutamento de pessoal para o
aparelho de Estado» (ibid.). A imbricação da burocracia estatal com a
universidade é crucial neste processo, dado que «as agregava fortemente não só
como símbolos da supremacia da lei e da igualdade de todos perante ela, mas
também porque ativava o princípio básico de “carreiras abertas aos talentos”,
podendo cada um contribuir à sua maneira para a substituição de uma versão
atributiva da sociedade por uma versão prescritiva da mesma» (ibid.).
Este modelo de modernização política
trouxe implicitamente consigo o projeto de forjar a identidade política
nacional através da preservação e desenvolvimento da cultura nacional. O
Estado-nação teve profundas consequências nos padrões de controlo e de
administração no mundo universitário. Em primeiro lugar, ao colocar a
universidade no topo das instituições que definem a identidade nacional, também
colocaram a educação superior no domínio da responsabilidade nacional. A
universidade foi assim submetida à tutela da administração pública em vez de
ser objeto de privilégios reais. [...] A universidade foi integrada num sistema
nacional de tutela e de controlo exercidos através de poderes legislativos,
decretos e circulares ministeriais.
E, não menos importante, o forjar do
Estado-nação aconteceu ao mesmo tempo que a academia era incorporada nas
fileiras do serviço estatal, postulando assim a obrigação implícita de prestação
de serviço à comunidade nacional (Neave, 1997: 14). A ligação entre a
universidade e a consolidação do Estado-nação era, pois, for-te. Essa ligação
pôde ser ainda muito recentemente verificada nos processos de independência dos
países anteriormente colonizados, onde a afirmação nacional ocorreu
praticamente ao mesmo tempo em que se inventava uma bandeira nacional e se
fundava uma universidade.
A ligação entre o projeto de forjar o
Estado-nação, a burocracia e a universidade e o processo mais amplo através do
qual os vassalos são substituídos por cidadãos são dinâmicas que se reforçam
entre si, pois o processo de modernização traz consigo – ao mesmo tempo que
reflete – uma tendência para a descontextualização (Giddens, 1994; 1996),
através da qual o espaço, o tempo e a ação social são assumidas como funções de
estruturas abstratas. O nome com que este processo costuma ser designado é
racionalização ou burocratização (Weber, 1930), mas, no que diz respeito ao
ensino superior, «a definição da cultura nacional e a emergência daquilo a que
mais tarde se chamará a “sociedade da qualificação”, sustentada no seu conjunto
por qualificações padronizadas e, frequentemente, vali-dadas pelo Estado, foram
introduzidas em primeira instância ao nível da universidade no sentido de
assegurar iguais condições de acesso aos postos administrativos mais elevados
do território» (Neave e van Vught, 1994: 268).
Os postos dos níveis administrativos
superiores foram, a partir de então, distribuídos de acordo com diplomas
organizados e/ou reconhecidos pelo Estado, lugares esses que antes eram
distribuídos com base na árvore genealógica dos indivíduos ou da sua influência
na ordem social. No que diz respeito à natureza e ao âmbito da administração da
educação, a unificação surge como a primeira característica universal dos
sistemas estatais, envolvendo esta a incorporação das instituições e respectiva
atividade numa rede educativa centralmente articulada e administrada, o que
«por seu turno traz consigo certos controles uniformes dimanados do centro,
assim como a padronização do que é ensinado, dos processos e dos produtos
educacionais no âmbito da nação» (Archer, ibid.: 174).
O modelo napoleônico de universidade
pode parecer, neste contexto, como aquele que melhor se adequa à modernização
política, pelo menos mais do que os modelos propostos por Humboldt ou Newman,
na medida em que estes últimos insistem mais na liberdade dos acadêmicos e,
assim, na autonomia da academia.
O modelo napoleônico era muito
restritivo no que diz respeito à autonomia das instituições acadêmicas, na
medida em que articulava um generalizado controlo estatal que regulava desde os
mais simples atos administrativos até aos conteúdos dos programas e dos cursos.
O modelo humboldtiano assumia, em compensação, que as universidades eram
parceiros do Estado, atuando como a mais elevada ex-pressão da cultura nacional
e do próprio Estado, sendo precisamente este caráter de parceria que introduzia
uma autonomia menos restrita. O modelo humboldtiano e o modelo jacobino,
contudo, não são contraditórios dentro do paradigma social, cultural e
institucional da modernidade. Pelo contrário, são atualizações diferentes da
mesma matriz.
Apesar de diferenças substanciais entre
os dois conceitos de autonomia, ambos envolvem uma semelhança fundamental na
tarefa que é atribuída ao Estado na sua relação com a universidade.
Independentemente do fato de o controlo estatal envolver um elemento de
parceria ou basear-se totalmente num princípio de subordinação e de prestação
administrativa de contas às instâncias superiores, a autonomia acadêmica não
era uma mera questão de proteção das liberdades de aprender e de ensinar. Era
também uma questão de proteger o sector modernizador da sociedade contra as
pressões, pretensões e exigências especiais de interesses instalados e
privilégios herdados (Neave e van Vught, ibid.: 271), (ver também Neave, 1996:
35).
A integração política pelo Estado, por
isso, permite não só descrever o modelo napoleônico de universidade, mas também
o humboldtiano, dado que os modelos caracterizados por uma maior independência,
por uma maior autonomia, enfatizando sobretudo a liberdade acadêmica para
procurar a verdade seja onde for que essa procura possa conduzir, assim como a
liberdade de o ensinar, partilham a assunção de que o «Estado, no que lhe diz
respeito, não era um mero fornecedor do quadro legal dentro do qual a missão da
universidade e as respectivas tarefas podiam ser levadas a cabo, atuava também
como um “tampão” no sentido de impedir que facções e interesses externos
interferissem com a infatigável procura de conhecimento» (Neave e van Vught,
ibid.: 270). Para além destes modelos havia também uma espécie de senso comum
acerca da função modernizadora do Estado como, por exemplo, se pode ver no
documento legal que, em 1911, e sob inspiração humboldtiana, criava as
Universidades do Porto e de Lisboa. Estas instituições eram aí definidas como
sendo instituições nacionais, públicas e que funcionariam sob a supervisão do
ministério que as tutelava, perseguindo objetivos nacionais através da
colocação das universidades na obrigação de contribuir para o progresso da
ciência através do trabalho dos estudiosos.
É crucial, contudo, que se esclareça que
não se podem ignorar as diferenças e as complexidades através da ênfase em
características que indiciam uma matriz comum, moderna, para o ensino superior.
De fato, as exceções ao modelo do controle estatal, ao mesmo tempo que
sublinham o lugar consensual atribuído à universidade no processo de modernização,
parecem indicar que não existe um modelo universal de relação entre o Estado e
o ensino superior. Exemplos de exceção aos modelo descrito parece ser o modelo
britânico de Oxbridge e o modelo das universidades americanas, que não foram
concebidas como serviços do Estado, mas como corporações livres administradas
ou por um University Councilou por um Board of Trustees, e cujos diplomas não
eram acreditados pelo Estado, mas apenas atribuídos pelas universidades
enquanto tais. O pendor modernizador, porém, mesmo nestes casos, surge como
evidente, pelo menos considerando as missões que essas instituições a si mesmo
atribuem. Adicionalmente, para além da sua independência em relação ao Estado,
não é possível dizer que os graduados, especialmente no caso britânico,
recusassem posições nas instituições do Estado, e que o caráter privado (ou
quase privado) das instituições colidia com os objetivos modernizadores do
Estado, especialmente no caso americano.
Ao procurar mostrar a congruência entre
a meta narrativa da modernidade e as narrativas públicas legitimadoras das
instituições universitárias, o nosso objetivo é o de esclarecer a natureza
moderna dos sistemas de ensino superior e o de sugerir que a crise de
identidade do ensino superior é o produto da conexão perdida entre as suas
fundações modernas e as percepções (narrativas também elas) que acerca de si
mesmo atualmente desenvolve.
A modernidade foi um tempo de grande
segurança e forte identidade das instituições de ensino superior e da educação
superior em si mesma, isto é, havia um consenso essencial, para além da
diversidade dos sistemas de ensino superior, acerca do que era educação
superior e acerca dos seus objetivos educacionais, sociais e políticos.
A asserção segundo a qual a ideia de
sistema de ensino superior é moderna significa também a integração política das
instituições no âmbito do Estado e a consolidação deste como instância central
de regulação. Esse é, efetivamente, o lócus onde as duas dimensões narrativas
se encontram e, em conjunto, justificam a implementação e o controlo políticos
dos sistemas de ensino superior. Apesar de importantes, não aprofundaremos,
porém, aqui a questão dos impactos da trans-formação da relação entre o Estado
e o ensino superior, retomando, antes, a da sua fundação narrativa.
2.
A DISSOLUÇÃO NARRATIVA DO ENSINO SUPERIOR: DA IDENTIDADE À CRISE
As universidades sempre foram habitadas
por uma pluralidade de discursos – o liberal, o tecnológico, o crítico, o
experiencial, o profissional, o humanístico, etc. Contudo, no que diz respeito
à sua definição de ensino superior, os diferentes níveis e domínios da
narrativa moderna forneciam uma ampla base de consenso e, por isso, os
ingredientes para uma identidade, de certa forma, segura de si. A questão é que
hoje esse consenso está a fragmentar-se, num processo que induz não só uma
pluralização de discursos incomensuráveis sobre e dentro do ensino superior,
mas também, e em que, ao mesmo tempo, um discurso específico assume uma posição
central, agregando sentidos em torno de uma nova identidade do ensino superior:
a narrativa empreendedora/empresarialista e da narrativa do mercado.
Como diz Harker, enquanto o racionalismo
ou a Razão permaneceram entronizados como meta narrativas legitimadoras, as
universidades gozaram de autonomia. À medida que a razão se fragmentou, a
legitimação passou para a narrativa daqueles que detêm o controle do
financiamento das universidades. Como todas as formas de discurso coerente são
legítimas num mundo pós-moderno, uma narrativa torna-se a breve trecho numa
narrativa legitimadora. Assim, é possível que uma narrativa baseada no culto da
eficiência, mas mascarada sob a forma de excelência, assuma o elevado lugar de
legitimação deixado vago pela Razão (Harker, 1995: 38).
O mesmo autor adverte que: “A dissolução
da grande meta narrativa legitimadora da Razão resultou na subjugação das
universidades ao princípio da performatividade. Aparentemente o setor
universitário tem de reconquistar a sua autonomia ou arrisca-se a permanecer
indefinidamente cativo da política econômica. Se as universidades não
conseguirem restaurar rapidamente a sua autonomia tradicional, a era da
universidade como instituição liberal poderá ter chegado ao fim (Harker, 1995:
38).
A razão principal para a crescente
centralidade das narrativas empreendedoras/empresarialistas é que elas declaram
a inevitabilidade e urgência da sua realização sob a forma do pragmatismo.
Primeiro, assumindo que o empreendedorismo/empresarialismo é a ‘melhor maneira’
de lidar com o ensino superior de massas e de o gerir ao nível do sistema e ao
nível das instituições; em segundo lugar, o mercado surge discursivamente como
sendo a instância mais adequada à crescente fragmentação e pluralidade das
sociedades e das suas instituições, quer no que diz respeito à sua conceitualização,
quer no que se refere à sua forma de gestão.
Há, assim, um paradigma emergente no
âmbito do ensino superior fortemente marcado pela massificação e pela pressão
da relevância. Este paradigma é ao mesmo tempo causa e sintoma da crise de
identidade do ensino superior que, na análise de investigadores como Cowen
(1996), está a ser ‘atenuado’, ou como Barnett (1996), está a ser ‘dissolvido’,
ou mesmo a ‘desaparecer, como diz Rothblatt (1995).
Cowen, define ‘atenuação’ da
universidade ao nível do espaço, referindo-se à sua dimensão internacional e à
sua conexão com a economia; ao nível financeiro, no sentido da crescente
clientelização dos estudantes e das suas famílias; ao nível pedagógico, referindo-se
à massificação do ensino superior e ao surgimento dos professores como
‘desenhadores de instrução’ (ibid: 251); e ao nível da qualidade, referindo-se
ao fato de os acadêmicos estarem a ser tendencialmente substituídos por
gestores especializados na formulação de juízos de valor acerca das atividades
levadas a cabo nas instituições. Barnett, por seu turno, diz que a universidade
se está a dissolver quer como unidade institucional, quer como centro do
Conhecimento (com letra maíscula) por excelência. As instituições estão a
dissolver-se em segmentos organizacionais e o Conhecimento em conhecimentos
(Barnett, 2000: 18). Finalmente, Rothblatt fala do ‘desaparecimento da
universidade’ no sentido em que as fronteiras desta estariam a diluir-se. As
fronteiras externas desaparecem à medida em que as funções da universidade são
crescentemente simuladas por outras organizações, como a atribuição de graus
(que também pode ser levada a cabo por empresas), a investigação (que pode ser
– e é – levada a cabo em laboratórios não universitários), etc. Mas a diluição
das linhas de demarcação tradicionais está também a ocorrer dentro das
universidades:
Reitores e presidentes [são] agora
“gestores do campus”. Diretores (e diretoras) de departamento são agora
“chefes” (escapando a designação à questão de gênero). Novos estilos de gestão
coexistem (desconfortavelmente?) com formas mais antigas de governo acadêmico,
colegial ou senatorial. Métodos empresarias de aumento do capital e de promoção
da investigação da universidade [estão] a ser importados e elogiados. [...]
Inquestionavelmente, a lista de exemplos poderia ser facilmente multiplicada
(Rothblatt, 1995: 31-32).
Estas características, contudo, também
acabam por chamar a atenção, algo paradoxalmente, para a centralidade do ensino
superior ao nível público e individual e para a discussão sobre as escolhas
políticas com que o ensino superior de massas se confronta: por um lado, no que
diz respeito à relação entre ensino superior e economia e desenvolvimento
social, e, por outro lado, no que diz respeito à relação entre massificação e
democratização, isto é, no que se refere à possibilidade de fornecer educação
superior de qualidade a amplos sectores da sociedade.
As razões da mudança de natureza do
ensino superior e das suas instituições não podem ser encontradas no âmbito
restrito do ensino superior, nem apenas na forte presença a partir dos anos
1980 do neoliberalismo na arena política, mas também, e sobretudo, no âmbito
das transformações mais amplas que estão a acontecer ao nível econômico, social
e político. A reconfiguração do ensino superior de massas tem de ser entendida
no contexto da mudança de padrões do trabalho, da produção, da distribuição e
do consumo, mudança essa que pode ser catalogada sob a designação de
pós-fordismo e no quadro da mudança dos padrões sociológicos de relação entre
os indivíduos, as famílias e o ensino superior.
Como já se sugeriu, a crise da narrativa
moderna e a emergência da narrativa ‘empreendedora/empresarialista’ são tanto
sintomas como causas da atual fragmentação identitária do ensino superior.
Sintomas, porque as pressões e os desafios principais ligados ao pós-fordismo e
às novas formas de procura social são enquadradas por um contexto social e econômico
mais amplo. Causas, porque os discursos interferem com e produzem realidade,
por exemplo, o empreendedorismo/empresarialismo e universidades de tipo
empreendedor/empresarialista.
Por exemplo, Deem usa o conceito de
«novo managerialismo» para designar estas ideias acerca do modo como
«instituições financiadas por dinheiros públicos são geridas, seguindo o padrão
muito divulgado de reestruturação dos serviços do Estado-providência nas
sociedades ocidentais» (2001: 10), e refere-se a elas simultaneamente como uma
‘ideologia’ e como ‘uso real’ dessas técnicas e práticas nas organizações
financiadas com dinheiros públicos. A investigadora conclui que
Os promotores dos novos discursos
managerialistas, sejam eles políticos, gurus da gestão ou apenas gestores,
reclamam frequentemente que as ideias do novo managerialismo são puramente
baseadas numa procura objetiva de eficiência, eficácia e excelência, surgindo
frequentemente as assunções sobre a contínua melhoria das organizações como
tema dominante. O novo managerialismo é usado para referir a desejabilidade de
uma grande variedade de mudanças organizacionais (Deem, 2001: 10).
A isto deve acrescentar-se que o managerialismo
está a assumir, de um modo aparentemente contra natura, as características que
as meta narrativas, segundo Lyotard, exibem. Efetivamente, está a emergir como
um discurso unificador e, na sequência do colapso do modelo fordista,
apresentando-se a si próprio, pelo menos implicitamente, como uma teoria quase
transcendente, atribuindo significados e legitimidade à ação social e
individual.
O nosso objetivo, porém, não é apenas o
de enfatizar a crise da narrativa humboldtiana e newmaniana e o surgimento de
novos discursos fundacionais para o ensino superior, mas também o de sublinhar
a necessidade de, ao lado das pressões da ‘performance’, da relevância e da
‘prestação de contas’, colocar a educação superior e o ensino superior no cerne
das discussões sobre o sistema e sobre a eficiência e eficácia das organizações
envolvidas. O argumento é o de que não se pode sacrificar cegamente a sua
identidade enquanto instituições de ensino superior à nova Jerusalém da
sociedade da performance e da informação e aos seus novos deuses. A ligação
entre educação, a procura do conhecimento e da aplicação deste surge-me como a
pedra-de-toque da identidade institucional e como central para os critérios de
tomada de decisão no âmbito do ensino superior.
À medida em que as fronteiras entre a
academia e a sociedade se diluem, a identidade do ensino superior torna-se
também problemática. Este nível de educação parece estar a submergir no seu
contexto social mais amplo e corre o risco de, ao entrar definitivamente no
mundo do negócios, passar a «[...] redescrever o mundo em vez de o compreender
» (Barnett, 1997: 146). Para usar as palavras de Basil Bernstein, a forte classificação
(1996) que existia entre ensino superior e sociedade foi enfraquecida à medida
em que as pressões para trazer as instituições para o ‘mundo’ aumentavam.
Relevância e articulação com o mundo do
trabalho encontram-se crescentemente na base dos discursos sobre a questão,
características que se tornadas em eixos hegemônicos de organização, em última
análise – pelo menos na nossa perspectiva –, podem induzir a dissolução da
identidade do ensino superior sob o peso da sua função econômica.
Esta questão é enfatizada por G. Neave
quando compara a concepção moderna de instituições de ensino superior com a
concepção emergente: «a primeira característica da universidade não era a sua
relevância em relação à sociedade, mas sobretudo a sua separação dela. Através
desta separação surgiu a sua capacidade de construir uma visão sobre a
sociedade e do seu papel nela, sub specie aeternitatis– quer dizer, a partir de
uma perspectiva de longo prazo» (Neave, 1995: 10). Presentemente, «é um [...]
dever da universidade ser não só “relevante” – e a relevância, como a traição,
é, em grande parte uma, questão de datas – mas ser considerada como relevante»
(Neave, 1995: 10). Efetivamente, a ‘relevância’, isto é, aquilo que poderá contar
como uma contribuição para a economia e para a sociedade, surge como um
importante campo de investigação a ser explorado, dado que uma grande parte do
conhecimento considerado num dado momento como ‘útil’, pode, noutro tempo e
noutro lugar, ser considerado ’irrelevante’ e vice-versa...
Foi no âmbito da matriz moderna que a
universidade e a profissão acadêmica foram configuradas da forma como hoje as
confrontamos e discutimos. Desde meados do século XIX que as instituições de
ensino superior e os seus ‘profissionais’ foram definidos a partir do conceito
de ‘liberdade acadêmica’, no sentido em que as atividades daqueles deveriam ser
devidamente separadas das da sociedade envolvente.
E foi no âmbito do controlo acadêmico
das universidades e da academização da produção do conhecimento que os papéis e
funções, quer dos professores, quer dos alunos, foram configurados (Barnett,
1997: 147). Se o ensino superior – a partir de fora e de dentro –, está a
perder a sua identidade sob os efeitos da pressão exercida pelas transformações
pós-fordistas e outras mudanças sociais, o mesmo parece estar a acontecer aos acadêmicos
e aos próprios estudantes.
Esta crise de identidade também surge
como um interessante campo de investigação, por exemplo, como é que os reitores
percepcionam, enquanto reitores, a sua cada vez maior função de gestão?
Descrever-se-ão a si mesmos como acadêmicos desempenhando funções de gestão ou
como gestores de questões acadêmicas?
Como é que os estudantes se percepcionam
a si mesmos enquanto estudantes do
ensino
superior, dada a cada vez mais clara alteração da coorte de ‘idade tradicional’e
a alteração da sua condição de estudantes a tempo inteiro? À medida que se foi
caminhando para além da modernidade foram-se instalando dúvidas acerca daquilo
que é considerado conhecimento, ou mesmo ciência, dúvidas essas que ter grande
impacto no ensino superior, que foi assim redefinindo os seus papéis sociais e
as suas missões institucionais. Simultaneamente, o ensino superior foi também
sociologicamente erodido, e as respostas às perguntas ‘quem é que é formado no
ensino superior?’, ‘como formar?’ e ‘para quê?’ aumentam a complexidade e a
heterogeneidade dos discursos (narrativas) sobre o ensino superior.
Contudo, se é verdade que as
instituições deste nível de educação já não podem ser vistas como desempenhando
o papel de único ou central produtor de conhecimento, ainda permanecem claramente
envolvidas com ele: «[a universidade] manufatura não o conhecimento enquanto
tal – essa é a tarefa do ramo da investigação da universidade – mas
competências de conhecimento. Produz graduados com determinadas capacidades»
(Barnett, 1996: 1). Os governos e as organizações internacionais nas suas
declarações políticas sobre o ensino superior insistem frequentemente neste
tipo de produtos como sendo os cruciais para o mandato endereçado ao sistema
(ver, por exemplo, o Dearing Report, 1997, acerca da relação entre o ensino
superior e a ‘sociedade da aprendizagem’).
Ao mesmo tempo, as universidades, e as
instituições do ensino superior em geral, são cada vez mais claramente
administradas e geridas como organizações, e cada vez menos como instituições
educativas na sua especificidade. Em termos organizacionais, elas são descritas
como sistemas abertos num meio ambiente volátil e em constante mutação, o que
significa, em termos políticos, que elas devem ser autônomas e, logo,
socialmente e financeiramente responsáveis e relevantes.
A nossa questão, por seu turno, é a de
manter a pergunta ‘e a educação superior?’. É que, no contexto descrito, a
nossa proposta é que a educação superior seja assumida como o critério que, em
última instância, enquadre os juízos e as decisões políticas ao nível do
sistema e das instituições. De passagem, sublinhe-se que esta meta-questão é
mais ampla e substancial do que as clivagens politécnico/universidade, ou
coordenação pelo Estado/coordenação pelo mercado e público/privado, pois tem a
ver com a própria definição daquilo sobre que se está a falar, sendo essa
também uma forma possível de repensar a própria natureza do investimento e
gestão públicos do ensino superior.
Finalmente, este reforço da ideia de que
é crucial colocar a questão da identidade do ensino superior como um ponto
urgente da agenda acadêmica e política não pode ser lido como um incitamento de
esforços para a criação de uma nova ideia-mestra para o ensino superior. Tal
não é nem desejável nem possível. Não é desejável, pois dando origem a
instituições unitárias com missões unificadas, tenderia ser imposta numa lógica
de cima para baixo, ignorando a cada vez maior diversidade individual e social.
Não é possível, porque o ensino superior diversificou-se de tal modo que uma
narrativa unificada do ensino superior só poderia ter um efeito meramente
retórico. É por isso que propomos, em vez de um programa completo para a
configuração da identidade do ensino superior, apenas guiões abertos para a
reinvenção da academia.
As estratégias reflexivas, portanto, não
podem assumir a forma nem de um programa pormenorizado nem universal. Trata-se
apenas (e isso não é pouco…) de inspirar uma vigilância contínua e uma atitude
crítica em relação aos diferentes discursos, pressões e dilemas com que ensino
superior se confronta.
3.
A IDENTIDADE FRAGMENTADA DO ENSINO SUPERIOR E A CONSTRUÇÃO REFLEXIVA DA
IDENTIDADE
A crescente presença das narrativas
empreendedoras/empresarialistas não tem tido como correspondente o
desenvolvimento da pura regulação pelo mercado, mas antes, e algo
paradoxalmente, o reforço da relação entre o Estado e o ensino superior.
Barnett diz que concorda com a afirmação de Neave segundo a qual as universidades
da Europa Ocidental assistiram à emergência do Estado avaliador e das
universidades avaliadas, mas defende que tal parece não descrever o quadro na sua
totalidade, pois «os elementos avaliativos são apenas uma parte da constelação
de forças e de interesses mais ampla, que atuam em paralelo» (Barnett, 1997: 53).
Para além das questões financeiras, de gestão e de avaliação relacionadas com o
ensino e a investigação, ele aponta o crescente interesse em questões curriculares
por parte dos representantes das profissões, a mutação do perfil de idade dos
estudantes e um mais amplo e mais articulado conjunto de expectativas por parte
dos consumidores, a emergência de órgãos intermédios («muitos dos quais se
dedicam a formas relativamente intrusivas de vigilância») e a necessidade de as
instituições procurarem ativamente por si mesmas uma maior proporção de financiamento,
como fatores que se devem ter presentes quando se pretendem compreender as atuais
características das instituições de ensino superior (Barnett, 1997: 52).
De fato, o ensino superior está a mudar
a sua natureza através do estreitamento das suas relações com a sociedade. As
pressões das exigências do pós-fordismo e a assunção do ensino superior como
uma mercadoria para consumo individual colocam, efetivamente, como dilema
político a colonização do ensino superior pelas exigências econômicas,
pragmáticas, culturais, etc. Estas pressões e exigências vêm simultaneamente de
dentro e de fora do sistema de ensino superior.
Santos (1994) fala da tripla crise da
universidade, a crise de hegemonia, referente à missão de produção de
conhecimento, a crise de legitimidade, referente aos seus impactos sociais, e a
crise institucional, referente à sua estrutura organizacional. Barnett, por seu
turno, chama a atenção para o fato de que a dissolução da universidade não deve
obscurecer a centralidade da educação superior, porque «A educação superior
[...] tem de ser vista como central de uma nova forma. Não já como um veículo
para a reprodução das elites do conhecimento ou para a produção de competência
para o mercado de trabalho, mas como uma tarefa crucial de fornecimento de
capacidade reflexiva» (Barnett,1997: 6). De fato, o foco na pluralização do
ensino superior em educação pós-secundária, terciária, universitária, politécnica,
etc. torna mais aguda a necessidade de encontrar um mínimo que lhe possa
fornecer os componentes que façam dele, de fato, educação superior.
Diferentemente daquilo que é
caracterizado como sendo o motopós-modernista anything goes(Stoer, Cortesão e
Magalhães, 1998; Cortesão, Magalhães e Stoer, 2001), o ensino superior não é
redutível a uma questão de consumo individual, eventualmente destituído de
elementos críticos e reflexivos, devendo antes ser entendido como uma
instituição social com o papel crucial de apoiar e desenvolver a ação
reflexiva, e como uma importante reserva de pensamento crítico, reflexivo e,
mesmo, alternativo.
Ronald Barnett (1997: 2-3) identificou
três tipos de atitudes em relação às transformações em curso no ensino
superior:
1. ‘Deixem-se as fúrias no seu sono’: o
ensino superior, à medida que se desenvolve de sistemas de elite para sistemas
de massas, apesar de todas as críticas, continua a funcionar bem. Aceita-se em
geral que aquilo que é oferecido é suficiente, ainda que não seja fácil de
estabelecer padrões de adequação.
2. ‘Que mil flores floresçam’:esta
parece ser a bandeira da perspectiva pós-modernista. Pela rejeição de todas as
grandes narrativas, diferentes e diversos tipos de ensino superior e
instituições poderão florescer, rompendo ao mesmo tempo com a cadeia de
regulação do Estado e com a ‘ideia-mestra’ de ensino superior.
3. ‘Formas de vida’:as tribos e
territórios acadêmicos evoluem para diferentes e incomensuráveis racionalidades
e padrões de desenvolvimento. Tornam-se tão diferentes que o seu processo de
diversificação jamais se encontra acabado. Barnett diz que estas três posições
são filosofias passivas no que diz respeito ao ensino superior. Sob inspiração
da teoria habermasiana da comunicação propõe uma atitude ativa, argumentando
que o ensino superior se deve concentrar na missão de formar ‘seres críticos’,
ao mesmo tempo que recusa a redução do pensamento crítico às competências
críticas do pensamento (1997: 93).
Seguimo-lo nisto e na sua proposta
fundada na necessidade de reinventar a educação liberal no contexto da educação
superior de massas. Contudo, estamos também cientes de que não é possível no
presente momento sociológico e político legislar filosoficamente sobre o que
deve ser a essência do ensino. Esta posição, por outro lado, não nos obriga a adotar
a posição ‘Que mil flores floresçam’ ou a da ‘Formas de vida’, pois as nossas
propostas, em primeiro lugar, fundam-se num concepção de estratégia reflexiva
no que diz respeito à identidade da educação superior, e, em segundo lugar,
entram no debate cientes de que as relações de poder existem e que este debate
está longe de ser diálogo entre parceiros em situações de comunicação iguais.
É, porém, esta a base sobre a qual a conversa pode ocorrer (ver também,
Magalhães, 2004).
É neste sentido que propomos guiões
sobre os quais pensamos ser possível fundar estratégias reflexivas, assumindo
que esses guiões são suficientemente amplos para evitar a acusação de que se
trata de um projeto de redefinição do ensino superior a partir de uma ‘grande
ideia’ ou ‘ideia mestra’. Trata-se de quatro ideias-força no sentido de
configurar a proposta do mínimo sobre o qual a identidade do ensino superior se
deve basear.
1) No campo do ensino superior não é
separável a procura do conhecimento ou da sua aplicação da ação educativa que
essa procura produz nos envolvidos nesse processo, sejam eles professores ou
estudantes.
2) Reconhecimento de que a
heterogeneidade do ensino superior significa sensibilidade à diversidade e ao caráter
compósito das organizações que levam a cabo investigação, aplicam conhecimento
e onde a função ensino ocorre. Este reconhecimento, contudo, não significa que
as instituições de ensino superior devam procurar a sua identidade nos padrões
e nas missões das organizações de negócios, empresas, ou quaisquer outras. A
razão para tal reside precisamente no fato de que a sua identidade se define
precisamente a partir daquilo que as diferencia das organizações de outros
tipos.
3) A assunção da transdisciplinaridade
como uma das características centrais do desenvolvimento do conhecimento
corresponde ao reconhecimento de que as divisões disciplinares tradicionais
estão a diluir os seus limites e a desenhar novos territórios. Contudo, este
reconhecimento não significa que áreas de conhecimento mais tradicionais ou
clássicas da academia devam ser abandonadas.
4) Como Giddens enfatizou (1996), o
conhecimento está a moldar o mundo e as nossas vidas, estando nós a viver uma
era sociológica por excelência, na qual a produção e a difusão do conhecimento
não têm a desculpa da ignorância dos seus efeitos externos ou ‘laterais’ (Beck,
1992). A educação superior assume um papel crucial neste contexto de grande
reflexividade. Consequentemente, a produção de conhecimento, a preservação e a
distribuição do conhecimento não podem ser apresentadas como sendo atividades
neutras, dado que não são parte de um «processo livre de valores» (Barnett,
1994.: 44). Para dar um exemplo: um plano de estudos para formar engenheiros em
áreas científicas e técnicas deverá incluir estudos – eventualmente no âmbito
das ciências sociais, mas não obrigatoriamente – no sentido de estimular a
consciência dos estudantes para os riscos sociais, humanos e ambientais
consequências da ciência e da tecnologia.
A tarefa de definição do significado de
ensino superior deve parar aqui, dado que ir mais longe no fornecimento de
elementos para a reconfiguração do ensino superior contemporâneo se, por um
lado, nos permitiria elaborar uma ‘ideia’ mais completa, por outro lado,
encerraria o debate. Fundamental para a delimitação da identidade do ensino
superior é precisamente que o debate aconteça de uma forma vigorosa e
vigilante. Dado que a ideia de universidade está a ser colonizada (repita-se: a
partir de fora e a partir de dentro) por discursos que enfatizam a necessidade
de adaptação às necessidades do meio ambiente, é importante que a identidade
institucional e organizacional deste tipo de instituições seja traçada e configurada
de uma forma crítica, sem o que, a nosso ver, não haverá nem ‘educação’, nem
‘superior’. A identidade do ensino superior não necessita de ser escorada numa
essência metafísica, constituindo a resistência crítica a dadas práticas e a dados
discursos, mas uma boa base a partir da qual é possível pensar o ‘superior’ deste
tipo de educação. Não se pretende, pois, assumir o papel do filósofo-rei, denunciado
por Clark (1996), mas o de contribuir para o dissenso crítico em relação, por
exemplo, ao pós-modernista anything goes.
CONCLUSÃO
Stephen Stoer (2004), no seu trabalho
recente sobre as novas formas de cidadania, a construção europeia e a
reconfiguração da universidade, desenvolve, a este propósito, uma interessante
perspectiva. Depois de ter apresentado quatro metáforas (Stoer e Magalhães,
2004; Magalhãese Stoer, 2005), como instrumentos para pensar o processo da
construção europeia (a ‘bandeira’, ‘associação/temas’, a ‘rede’ e o ‘bazar’),
argumenta que o que está em causa no processo de construção europeia é a noção
suportada pela Comissão Europeia, segundo a qual a Europa constituiria um
contexto internacionalizado de redes.
Neste sentido, a identidade do ensino
superior deveria articular um novo papel na e com a Europa enquanto sociedade e
economia do conhecimento, e com a necessidade de promover a excelência precisa
“otimizar os processos que subjazem” (CEC, 2003) a essa mesma sociedade. Diz
Stoer que quer este novo papel, quer o desejo de promover a excelência dependem
da capacidade da Europa do conhecimento em fornecer o contexto no qual a
articulação do conhecimento fundado em bytese o conhecimento fundado na
reflexividade possam ser promovidos em simultâneo. Neste sentido, diz ainda, o
ensino superior e a construção europeia estão inelutavelmente ligados, na
medida em que as instituições de educação superior como produtoras e difusoras
do conhecimento se articulam com uma Europa que parece estar condenada a
celebrar a sua diversidade em termos culturais e em termos de conhecimento e a
definir-se como centro de negociação sem fim entre diferenças no contexto da rede
informacional global do capitalismo.
A urgência e a importância desta dupla tarefa
de produzir e difundir conhecimento, por um lado, e promover as diferenças
culturais e identitárias, por outro, parecem dar nova centralidade à educação superior
ao mesmo tempo que a redefinem. E, num mundo global, em que as diferentes
regiões crescentemente se assumem como as novas unidades políticas em detrimento
dos Estados-nação, tal parece ser válido para outros espaços que não o europeu.
Assim, como Stoer e Magalhães (2005a)
sublinham, as escolhas políticas com que a educação superior atualmente se
confronta não podem ser reduzidas ao dilema simplista constituído pela
alternativa: ou a universidade de massas ou a universidade de investigação de
qualidade. A investigação está na universidade, mas, como se sabe, ela nem
sempre “morou” aí. Antes do século XIX, vivia em academias, museus, e outras
instituições não universitárias. Passou a ser do âmbito da universidade, quando
esta fez da investigação uma forma de ensino-aprendizagem e da produção do
conhecimento uma obrigação para a construção da cultura nacional.
Por outro lado, o argumento para que a
investigação se mantenha dentro do ensino superior não parece passar pelo fato
de ela aí se fazer de um modo mais eficiente. Nos laboratórios, nos centros de
pesquisa, nos institutos, públicos ou privados, não universitários, ela parece
desenvolver-se de um modo mais eficaz. Se se defende que a presença da
investigação é um ingrediente fundamental do ensino superior, é, precisamente,
por causa da educação, nomeadamente por causa do ‘superior’ da educação
superior.
O que parece estar em causa não é uma
mera recomposição do ensino superior. Esta só é compreensível no contexto da
mais ampla reconfiguração do Estado, da regulação estatal e dos quadros sociais
mais amplos. Isto é, as mudanças em curso no ensino superior, no novo contexto
das chamadas sociedade e economia do conhecimento, obrigam ao repensar da
relação entre este nível de ensino e a sua tradicional função seletiva, pois a
formação ao longo da vida e a afirmação das identidades coletivas muitas vezes
relacionadas com ela (ver, por exemplo, os novos saberes agora introduzidos na
academia: “estudos de mulheres”, “estudos étnicos”, “estudos verdes”, etc.)
deixaram de ser uma mera declaração política, inscrevendo-se já na agenda das
instâncias de governação dos sistemas e das instituições. Por outro lado,
trabalhos levados a cabo no âmbito das comunidades empresariais (Ball, 1990)
têm enfatizado que o perfil do trabalhador da sociedade e economia do
conhecimento deve ser flexível, treinável, com capacidades de comunicação,
capaz de trabalhar e cooperar em equipa, rápido a responder às alterações dos
contextos e ambientes organizacionais, etc.
De fato, a produção de conhecimento e a
produção econômica tendem a não ser âmbitos totalmente distintos, um é
suscitado e apoiado crescentemente pelo outro. A investigação em ambos os casos
parece ser crucial: é relevante social e economicamente e desempenha um papel
de continuada vigilância sobre as conseqüências (esperadas e não esperadas) da
aplicação do conhecimento na trans-formação da realidade física e social, não
se reduzindo, portanto, à sua definição a partir da relevância econômica.
É nesta encruzilhada que os guiões acima
propostos podem fazer sentido, isto é, no ponto em que a missão da educação
superior assume como objetivo a formação do critical selfem tensão com o
corporate self, para utilizar os termos de Barnett (1997), assim como a tarefa,
ao mesmo tempo modesta e enorme, de reflexivamente persistir naquilo que
constitui a diferença da educação superior, respondendo, então, à pergunta de
Yeates ‘How can we know the dancer from the dance?’.
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