Blog História do Ensino Superior Brasileiro, de autoria de Álaze
Gabriel. Disponível em http://historiadoensinosuperiorbrasileiro.blogspot.com.br/
O FUTURO
COMEÇA HOJE
Especialistas traçam um panorama do ensino superior
de acordo com as demandas da sociedade moderna, proporcionando a formação de
competências e empregabilidade.
O ensino superior no Brasil deve caminhar para uma
reformulação que acompanhe as mudanças da sociedade brasileira e corresponda às
necessidades de profissionalização e às novas tecnologias que, estas sim, a
passos rápidos, transformam o perfil de estudantes, professores e do próprio
mercado educacional. O desafio de continuar crescendo e possibilitar a inclusão
de mais jovens na educação terciária, a fim de contribuir para o
desenvolvimento social e econômico do país, não é uma tarefa simples e passa
pelos diversos setores das instituições de ensino superior. Para ajudar a
preparar esse futuro, o 12º Fórum Nacional do Ensino Superior Privado (Fnesp)
discutiu, em São Paulo, com especialistas de gestão, financiamento,
administração, economia e, claro, de público jovem, os desafios da próxima
década na educação.
Num cenário de curto prazo, de acordo com Leonardo
Trevisan, jornalista e professor de economia da PUC-SP, as instituições de
ensino devem estar atentas à preparação dos alunos para o mercado de trabalho.
"Tem de gerar competência e mostrar ao aluno o quanto ele é
empregável", destaca. Para isso é necessário pensar a revitalização dos
cursos e articular a formação com as necessidades atuais das empresas. Como
exemplo, Trevisan cita o Tratado de Bolonha, que mudou o sistema educacional
superior europeu a fim de gerar novas oportunidades e enfrentar o
envelhecimento do sistema.
Mas as mudanças não param por aí. A médio prazo,
também como Bolonha, Trevisan ressalta a unificação de créditos e a
possibilidade de plena mobilidade entre as instituições para os discentes. Já a
longo prazo, o irreversível papel das tecnologias no ensino será
imprescindível, com a portabilidade da informação e a interatividade, quadro
que exigirá um novo papel do professor.
A experiência do professor holandês, Win Venn, da
Faculdade de Tecnologia, Política e Gestão da Delft University, corrobora com a
necessidade de as instituições de ensino estarem atentas ao uso das tecnologias
como metodologia de aprendizagem. Para ele, as mudanças educacionais passam
mais pela pedagogia do que pelas tecnologias, mas estas são fundamentais, pois
os jovens de hoje já nascem em frente de uma tela de computador. É o "homo
zapiens", classifica Venn, que ao pesquisar por que os jovens gostam tanto
de jogos virtuais detectou que os games oportunizam a eles fazer suas próprias
escolhas. "Como jogador você determina sua própria estratégia, decide o
que vai fazer e além do mais os jogos são divertidos", explica o
professor. "O mundo virtual passa a compor o mundo físico, e os jovens
passam a ter controle sobre o processo de aprendizagem, o que dificulta a
adaptação da escola a essa nova realidade", revela Venn.
Atenta a essa mudança no perfil dos estudantes, a
Delft começou a compartilhar conteúdos e aulas online para cativar os jovens.
Venn revela que os alunos chegam a assistir à mesma aula virtual até oito
vezes. É o perfil dos multitarefas, que fazem diversas coisas ao mesmo tempo,
podendo levar mais tempo para realizar a lição de casa, por exemplo, mas não
deixam de cumpri-la.
De acordo com o professor, as instituições precisam
vencer os métodos analógicos e lineares de ensino, pois os alunos não são mais
assim. Ele explica que as habilidades são diferentes entre aqueles que
aprenderam com livros e os que aprendem com telas, por isso a resistência ainda
é grande no meio docente. Mas Venn entende que os professores devem ser
seduzidos a participar dessa nova metodologia e que a pressão dos pares também
funciona. "Tem de seduzir, mostrar a oportunidade de de estar no topo do
mundo com a tecnologia. Eles não quererem ser vistos como professores
medíocres, pelo contrário, querem ser interessantes e respeitados, e os que não
participam desse processo estão ficando isolados", adverte.
Com outras palavras, é um efeito que pode ser
comparado ao de adesão às redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter. Quem
fica de fora da rede do momento acaba se sentindo excluído do mundo (pelo menos
do mundo virtual).
A educação superior também pode aproveitar as novas
oportunidades geradas pelo desenvolvimento da economia brasileira e com a
realização de eventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíadas. Para Roberto
Macedo, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, as demandas
educacionais podem ser sentidas diferentemente em cada região.
Os impactos dos investimentos gerados pelos eventos
esportivos terão efeitos permanentes, como a construção de estádios e melhora
da infraestrutura. No que se refere às instituições de ensino, predominará o
impacto transitório, como o oferecimento de cursos de especialização em
hotelaria e turismo, por exemplo. Macedo aconselha buscar parcerias com os
organizadores dos eventos para gerar tais oportunidades. Ele sugere ainda
observar a localização dos investimentos definitivos, como a construção de
linhas de metrô, que deverão desenvolver a região do entorno, e investir na
construção de estabelecimentos educacionais nessas áreas.
Fernando Trevisan, diretor-geral da Trevisan Escola
de Negócios, concorda que não é dado concreto que a Copa e as Olimpíadas
garantam oportunidades e desenvolvimento regionais. "Um outro pilar desses
grandes eventos, do qual não se fala muito, é a necessidade de investimento em
capacitação e treinamento de pessoal, porque a gente espera que esse legado, essas
novas estruturas que serão construídas, e também o turismo, gerem
crescimento", confirma o jovem economista.
A expectativa é de que haja pessoal qualificado a
operar e gerir tais estruturas que serão criadas. "Vai precisar de gente
especializada em gerir arenas, que é totalmente diferente do que administrar um
estádio de futebol, pois são arenas multiuso, muito mais próximas de um
conceito de shopping center e de entretenimento." É aí que Trevisan vê
maiores oportunidades para as instituições de ensino, que poderão oferecer
cursos de capacitação específicos. "A área de pesquisa também é muito
carente de dados científicos e de trabalhos sérios sobre esses impactos, então
há aí uma oportunidade para as universidades entrarem com algo sólido e contribuirem
para a sociedade nesse sentido também", defende Fernando Trevisan.
Atento a essas oportunidades, Nei José Lazari,
presidente do Consórcio das Faculdades Comunitárias Gaúchas, revela que está em
discussão junto à Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo 2014 no Rio Grande
do Sul, um projeto para que as instituições ligadas ao Comung possam integrar
um programa de qualificação de recursos humanos para atuar durante os jogos. A
ideia é gerar a capacitação desde taxistas até trabalhadores do ramo da hotelaria
e do comércio para atender melhor os turistas.
Caio Luiz de Carvalho, presidente da São Paulo
Turismo, observa que um fator importante de um grande evento é a materialização
de projetos de infra-estrutura que normalmente estão "engavetados".
Ele ressalta, porém, a necessidade de um planejamento estratégico para que esse
investimento não seja transitório e possa gerar resultados não apenas enquanto
durarem os eventos, mas que permaneçam futuramente.
Sobre a qualidade do ensino superior, Michel
Crawford, especialista em educação sênior para a América Latina e o Caribe do
Banco Mundial, ressalta que essa é uma questão que precisa ser levada muito a
sério. Crawford sinaliza que um sistema de acreditação das instituições de
ensino superior deve atender ao objeto com o qual se está comprometido.
No que se refere a gestão, e especialmente das
instituições de origem familiar, realidade de grande parte dos pequenos
estabelecimentos de ensino, Armando Lourenzo, professor da FIA/USP e PUC e
reitor da Ernst & Young University, aposta na governança corporativa. Ele
explica que um sistema de governança corresponde à composição de fóruns dentro
da organização nos quais ocorra a discussão dos aspectos peculiares à gestão
entre os familiares envolvidos no processo. Lourenzo acredita que a governança
diminui a possibilidade de conflito na medida em que ela separa o fórum de
discussão familiar do de gestão.
Contudo é preciso ter uma nova visão sobre a
realidade social e dar um outro sentido para a escola, comenta Leonardo
Trevisan. É aprender para se tornar empregável, não para ter um diploma
simplesmente. "O anel de doutor não interessa mais. É por isso que a
grande maioria dos jovens brasileiros não se interessa em fazer
faculdade", sentencia.
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