quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA



Blog História do Ensino Superior Brasileiro, de autoria de Álaze Gabriel. Disponível em http://historiadoensinosuperiorbrasileiro.blogspot.com.br/

O FUTURO COMEÇA HOJE

Especialistas traçam um panorama do ensino superior de acordo com as demandas da sociedade moderna, proporcionando a formação de competências e empregabilidade.
O ensino superior no Brasil deve caminhar para uma reformulação que acompanhe as mudanças da sociedade brasileira e corresponda às necessidades de profissionalização e às novas tecnologias que, estas sim, a passos rápidos, transformam o perfil de estudantes, professores e do próprio mercado educacional. O desafio de continuar crescendo e possibilitar a inclusão de mais jovens na educação terciária, a fim de contribuir para o desenvolvimento social e econômico do país, não é uma tarefa simples e passa pelos diversos setores das instituições de ensino superior. Para ajudar a preparar esse futuro, o 12º Fórum Nacional do Ensino Superior Privado (Fnesp) discutiu, em São Paulo, com especialistas de gestão, financiamento, administração, economia e, claro, de público jovem, os desafios da próxima década na educação.
Num cenário de curto prazo, de acordo com Leonardo Trevisan, jornalista e professor de economia da PUC-SP, as instituições de ensino devem estar atentas à preparação dos alunos para o mercado de trabalho. "Tem de gerar competência e mostrar ao aluno o quanto ele é empregável", destaca. Para isso é necessário pensar a revitalização dos cursos e articular a formação com as necessidades atuais das empresas. Como exemplo, Trevisan cita o Tratado de Bolonha, que mudou o sistema educacional superior europeu a fim de gerar novas oportunidades e enfrentar o envelhecimento do sistema.
Mas as mudanças não param por aí. A médio prazo, também como Bolonha, Trevisan ressalta a unificação de créditos e a possibilidade de plena mobilidade entre as instituições para os discentes. Já a longo prazo, o irreversível papel das tecnologias no ensino será imprescindível, com a portabilidade da informação e a interatividade, quadro que exigirá um novo papel do professor.
A experiência do professor holandês, Win Venn, da Faculdade de Tecnologia, Política e Gestão da Delft University, corrobora com a necessidade de as instituições de ensino estarem atentas ao uso das tecnologias como metodologia de aprendizagem. Para ele, as mudanças educacionais passam mais pela pedagogia do que pelas tecnologias, mas estas são fundamentais, pois os jovens de hoje já nascem em frente de uma tela de computador. É o "homo zapiens", classifica Venn, que ao pesquisar por que os jovens gostam tanto de jogos virtuais detectou que os games oportunizam a eles fazer suas próprias escolhas. "Como jogador você determina sua própria estratégia, decide o que vai fazer e além do mais os jogos são divertidos", explica o professor. "O mundo virtual passa a compor o mundo físico, e os jovens passam a ter controle sobre o processo de aprendizagem, o que dificulta a adaptação da escola a essa nova realidade", revela Venn.
Atenta a essa mudança no perfil dos estudantes, a Delft começou a compartilhar conteúdos e aulas online para cativar os jovens. Venn revela que os alunos chegam a assistir à mesma aula virtual até oito vezes. É o perfil dos multitarefas, que fazem diversas coisas ao mesmo tempo, podendo levar mais tempo para realizar a lição de casa, por exemplo, mas não deixam de cumpri-la.
De acordo com o professor, as instituições precisam vencer os métodos analógicos e lineares de ensino, pois os alunos não são mais assim. Ele explica que as habilidades são diferentes entre aqueles que aprenderam com livros e os que aprendem com telas, por isso a resistência ainda é grande no meio docente. Mas Venn entende que os professores devem ser seduzidos a participar dessa nova metodologia e que a pressão dos pares também funciona. "Tem de seduzir, mostrar a oportunidade de de estar no topo do mundo com a tecnologia. Eles não quererem ser vistos como professores medíocres, pelo contrário, querem ser interessantes e respeitados, e os que não participam desse processo estão ficando isolados", adverte.
Com outras palavras, é um efeito que pode ser comparado ao de adesão às redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter. Quem fica de fora da rede do momento acaba se sentindo excluído do mundo (pelo menos do mundo virtual).
A educação superior também pode aproveitar as novas oportunidades geradas pelo desenvolvimento da economia brasileira e com a realização de eventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíadas. Para Roberto Macedo, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, as demandas educacionais podem ser sentidas diferentemente em cada região.
Os impactos dos investimentos gerados pelos eventos esportivos terão efeitos permanentes, como a construção de estádios e melhora da infraestrutura. No que se refere às instituições de ensino, predominará o impacto transitório, como o oferecimento de cursos de especialização em hotelaria e turismo, por exemplo. Macedo aconselha buscar parcerias com os organizadores dos eventos para gerar tais oportunidades. Ele sugere ainda observar a localização dos investimentos definitivos, como a construção de linhas de metrô, que deverão desenvolver a região do entorno, e investir na construção de estabelecimentos educacionais nessas áreas.
Fernando Trevisan, diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios, concorda que não é dado concreto que a Copa e as Olimpíadas garantam oportunidades e desenvolvimento regionais. "Um outro pilar desses grandes eventos, do qual não se fala muito, é a necessidade de investimento em capacitação e treinamento de pessoal, porque a gente espera que esse legado, essas novas estruturas que serão construídas, e também o turismo, gerem crescimento", confirma o jovem economista.
A expectativa é de que haja pessoal qualificado a operar e gerir tais estruturas que serão criadas. "Vai precisar de gente especializada em gerir arenas, que é totalmente diferente do que administrar um estádio de futebol, pois são arenas multiuso, muito mais próximas de um conceito de shopping center e de entretenimento." É aí que Trevisan vê maiores oportunidades para as instituições de ensino, que poderão oferecer cursos de capacitação específicos. "A área de pesquisa também é muito carente de dados científicos e de trabalhos sérios sobre esses impactos, então há aí uma oportunidade para as universidades entrarem com algo sólido e contribuirem para a sociedade nesse sentido também", defende Fernando Trevisan.
Atento a essas oportunidades, Nei José Lazari, presidente do Consórcio das Faculdades Comunitárias Gaúchas, revela que está em discussão junto à Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo 2014 no Rio Grande do Sul, um projeto para que as instituições ligadas ao Comung possam integrar um programa de qualificação de recursos humanos para atuar durante os jogos. A ideia é gerar a capacitação desde taxistas até trabalhadores do ramo da hotelaria e do comércio para atender melhor os turistas.
Caio Luiz de Carvalho, presidente da São Paulo Turismo, observa que um fator importante de um grande evento é a materialização de projetos de infra-estrutura que normalmente estão "engavetados". Ele ressalta, porém, a necessidade de um planejamento estratégico para que esse investimento não seja transitório e possa gerar resultados não apenas enquanto durarem os eventos, mas que permaneçam futuramente.
Sobre a qualidade do ensino superior, Michel Crawford, especialista em educação sênior para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial, ressalta que essa é uma questão que precisa ser levada muito a sério. Crawford sinaliza que um sistema de acreditação das instituições de ensino superior deve atender ao objeto com o qual se está comprometido.
No que se refere a gestão, e especialmente das instituições de origem familiar, realidade de grande parte dos pequenos estabelecimentos de ensino, Armando Lourenzo, professor da FIA/USP e PUC e reitor da Ernst & Young University, aposta na governança corporativa. Ele explica que um sistema de governança corresponde à composição de fóruns dentro da organização nos quais ocorra a discussão dos aspectos peculiares à gestão entre os familiares envolvidos no processo. Lourenzo acredita que a governança diminui a possibilidade de conflito na medida em que ela separa o fórum de discussão familiar do de gestão.
Contudo é preciso ter uma nova visão sobre a realidade social e dar um outro sentido para a escola, comenta Leonardo Trevisan. É aprender para se tornar empregável, não para ter um diploma simplesmente. "O anel de doutor não interessa mais. É por isso que a grande maioria dos jovens brasileiros não se interessa em fazer faculdade", sentencia.







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sintam-se à vontade para enriquecer a participação nesse blog com seus comentários. Após análise dos mesmos, fornecer-lhe-ei um feedback simples.